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9 de janeiro de 2018

Entrevista com Felipe Callipo


Oba! Mais uma entrevista aqui no Coisicas! Adoro! :)

Acho que já disse aqui o quanto eu curto de montão essa sessão de entrevistas, né? Sim, porque é uma oportunidade muito bacana de conhecer um cadiquinho mais o artista por trás da obra e a pessoa por trás do artista...

Felipe Callipo é uma pessoa e um artista que eu admiro muitíssimo! O artista, que faz um trabalho belíssimo e conscientemente representativo da produção barroca ocorrida no Brasil nos tempos de colônia, eu já mostrei em outro post - leia aqui.

Agora vos convido a conhecer também a pessoa, "o cara", o Felipe "figura", o jovem simpático, bom de prosa, espirituoso e acessível, ao mesmo tempo brincalhão e discreto... 

Já havia algum tempo eu estava "me devendo" (e ao Coisicas) tirar uma horinha para sentar com ele e ter essa prosa. E eis que chegou a ocasião!

Cosicas Artesanais - Felipe, onde você nasceu e em qual data?
Felipe Callipo - Nasci em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, no dia 16 de setembro de 1978.

C.A. - Quais eram suas brincadeiras preferidas na infância?
F. C. - Era só futebol.

C.A. - Só futebol??
F.C. - Só, rs.

C.A. - Bola de gude, pipa... nada?
F. C. - Só futebol, rs...

C.A. - Rs... Tá... Nessa época você já tinha contato com o barro, certo? 
F.C. - É, porque eu aprendi a fazer com o meu pai, então, né... rs

C.A. - Sim... Aliás, o teu pai é um cara que eu também quero "trazer" aqui no Coisicas um dia, pra  mostrar o trabalho dele... Tô me devendo mais essa, rs... Bem..., na infância, você pensava em se tornar o quê quando crescesse? Ser escultor, assim como o teu pai, passava pela tua cabeça?
F.C. - Não. Eu sempre pensei em ser advogado, mas aí não tive dinheiro pra fazer a faculdade, aí eu fiz química, rs... Mas também não queria trabalhar em fábrica, porque eu sou meio preguiçoso, rsrs... Aí fiz artes, aí nas artes deu certo! rsrs...

C.A. - Ufa, ainda bem! Rsrs...  Então você fez escola de artes?
F.C. - É, fiz faculdade de artes. Porque o meu pai dava aula numa faculdade e porque ele falou que se eu queria ser um artista eu tinha que ter uma formação.

C.A. -  Humm... Você cresceu vendo o trabalho do teu pai e também já criava as tuas próprias peças e, então, veio a faculdade... Você acha que o aprendizado acadêmico mudou alguma coisa no teu modo de fazer as tuas peças?
F.C. - Não. Só que eu comecei a valorizar mais o popular... Eu gostava muito de arte renascentista, ah! Aquelas coisas maravilhosas, gigantes! E eu comecei a valorizar o popular. Mas foi participando e vendo e indo em museu... E hoje eu dou muito mais valor ao popular que ao erudito.

C.A. - Curioso, isso... Porque é muito comum ocorrer o oposto, né?... Que, após passar pela academia, alguns olhares releguem o popular a segundo plano ou o considerem "coisa menor"...
F.C. - Ah! E como eu posso?? O popular é a minha base, eu nasci no meio disso, faz parte da minha vida!

C.A. - É mesmo... E é muito interessante esse teu relato... Porque mostra a força cultural que o meio em que estamos inseridos exerce sobre nós, moldando nossas preferências, influenciando nossas escolhas, nossos modos de expressão (moralmente ou esteticamente)... E, vem cá... Quando vc se deu conta de que isso era "pra valer", de que isso seria o teu trabalho?
F.C. - Ói, é... acho que... quando eu tinha uns vinte, vinte e poucos anos, que eu comecei de fato a fazer peças com mais afinco, pra vender...

C.A. - E as peças sacras? Em que momento você passou a esculpir santos? Movido pelo quê?
F.C. - Ah, desde o começo... Comecei fazendo Divino. Quando era moleque, fazia Divino Espírito Santo. Eu sou de Mogi das Cruzes, lá isso é muito forte...

C.A. - Mais uma vez a força do meio... ;)
F.C. - É... E porque vendia muito também! rsrs Aí, uma coisa junta com a outra... rs

C.A. - Rs, tá certo... Bem, a demanda não deixa de ser também uma força (e contundente!) do meio, rsrs... Felipe, é correto afirmar que a tua linguagem é barroca, né?
F.C. - É... Eu busco o barroco paulista.

C.A. - Por quê?
F.C. - Porque tá acabando, ninguém mais faz... Eu não conheço 3 pessoas que fazem isso que eu faço, e é triste isso.

C.A. - O que te inspira nas tuas criações artísticas?
F.C. - Deixar alguma coisa pro futuro, porque eu tô vendo que hoje ninguém tá deixando nada pro futuro... Se a gente não deixar alguma coisa... vai ficar feio daqui a alguns séculos...

C.A. - Como foi no começo?
F.C. - Nossa!... O começo é difícil! Na verdade é difícil até hoje! rs... Mas no começo é muito mais difícil... Pra vc conseguir achar uma linha de trabalho, se encaixar no mercado... É complicado. Depois que encaixou, vai embora, a coisa segue, mas até chegar aí... é difícil, viu?...

C.A. - Você considera que hoje já está "encaixado"?
F.C. - Ah, eu já tenho um certo conhecimento do que eu tenho que fazer pra me dar bem, então é tranquilo.

C.A. - Felipe, você tem alguma dica ou mensagem que possa deixar para quem está começando a trilhar o caminho da cerâmica e da produção artística de imagens sacras?
F.C. - Não desistir. Porque... Acho que quando faltar um pouquinho pra alcançar, assim, vai dar uma vontade imensa de desistir, mas é não desistir. Eu tive dois, três amigos que tinham um trabalho muito bonito e que desistiram. Fui no shopping e vi um desses caras trabalhando numa loja de vender celular... Me cortou o coração, porque é um "p...to" dum artista! O financeiro falou mais alto, ele teve que buscar uma fonte de renda, mas dói o coração, então, a mensagem é não desistir!

Já em "OFF", com o gravador desligado...
Simone - Poxa, Felipe, super valeu! Obrigadíssima! Demais da conta!
Felipe - Ué!... Era só isso? Já acabou??...
Simone - Cabô-ué! Cê tá pensando que isso aqui é programa de televisão?? Rs...
Felipe -  Ah! Eu achei que tinha mais! Rsrs...

Coisicas Artesanais - Entrevista com Felipe Callipo
Felipe se divertindo em breve pausa de 'poses-chacota' impagáveis (e impublicáveis, rs...) 
feitas para as lentes do Coisicas Artesanais, enquanto trabalhava algumas de suas peças.
Revelando São Paulo - SP, dezembro de 2017 - Foto: Dagô

Felipe, querido! Muuuuuuito grata por essa entrevista aqui para o Coisicas! Te admiro muitíssimo, muito mesmo! Tanto pelo teu trabalho, que é de tirar o chapéu e que, mesmo sendo "popular", está carregado de erudição (se me permite o atrevimento de tal comparação, rs), como pela pessoa bacana, simples, simpática e super acessível que você é! Muito agradecida! É uma grande honra ter você proseando aqui  conosco no Coisicas! :)

Que você continue construindo e trilhando esse caminho tão belo e de maneira tão consciente (tão sabedora do que quer!), buscando nas tuas raízes, nas bases da tua formação enquanto indivíduo e nas coisas que aprendeu com teu pai, os elementos de que precisa para transformar fé e cultura típicas da nossa identidade popular em verdadeiras Obras de Arte!
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2 comentários:

  1. Muito obrigado Simone e Dago ficou bem engraçada kkkkkkkkkk

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    1. Rsrs... Valeu, querido! Eu acho que ficou a tua cara! rsrs...
      Feliz demais que tenha curtido! Super grata! Simone :)

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