5 de dezembro de 2015

Flory Menezes - Realismo e delicadeza


Quem anda lendo postagens minhas por aqui já deve saber que fui aluna da Flory Menezes - num curtíssimo mas delicioso espaço de tempo, no ano de 2014. Mas antes de me tornar aluna eu já tinha adquirido uma peça sua (isso muito antes de eu sequer sonhar fazer aulas de escultura!).

A peça é um São Francisquinho (lindo!) de Assis. Sentadinho num toco, de calças curtas, as canelas de fora... Os cotovelos sobre os joelhos e as mãos cruzadas servindo de apoio ao rosto... Um pássaro branco pousado na perna esquerda, um outro pássaro no ombro direito... E uma carinha serena de quietude e contemplação... de Paz e Bem...

Era dezembro de 2008. As festas de fim de ano estavam muito próximas. Vi o tal Francisco na vitrine de uma galeria em Búzios (RJ) - a galeria da Flory que, à época, eu nem sonhava conhecer! Me encantei com a delicadeza daquela peça (e, claro, com a sua "novidade iconográfica", né? Uma "tara" minha... - entenda melhor aqui) e, como estávamos pertinho do Natal, não me fiz de rogada e a pedi de presente ao marido! 

Entramos na loja e compramos a peça. Eu, muito feliz da vida! Não lembro mais nada. Só lembro que a dona que nos atendeu pareceu também feliz de ver a minha alegria. E o Francisquinho da Flory veio cá pra casa embelezar e trazer encanto pros meus olhos e se juntar a outros Francisquinhos num cantinho da minha sala. 


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São Francisco (lindo!) da Flory...

Alguns anos se passaram... Cinco a seis anos... E na virada para 2014 eu fiz uma viagem que mexeu comigo de maneira especial... Voltei pra casa com uma vontade inquieta de mexer com barro e criar... "coisas", figuras, personagens, santinhos... Era uma vontade que, embora tímida, latejava...

E lá fui eu catar na internet algo que nem sabia bem direito o quê... Aulas de cerâmica? Não. O que eu queria mesmo (isso me explicou uma ceramista com quem eu havia feito um primeiro contato) eram aulas de escultura! - e me indicou uma artista plástica sua conhecida: Flory Menezes (!)...

Mas, vixe! Como é que eu, tendo já uma peça da Flory em casa, não pensei nisso antes? Sim, porque a peça foi comprada em Búzios mas na sacola onde foi embalada estava escrito que a artista tinha ateliê também no Rio!
 

"Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"
(Mário Quintana - Da felicidade)


A Flory é uma pessoa encantadora! Além de professora zelosa e dedicada! (E querida, e risonha, alegre, gentil!)... Conduz alunos de diferentes histórias, vontades e estilos criativos, "mapeando" e trazendo à tona o que cada um tem a desenvolver para encontrar o "seu melhor" no contato com a escultura em cerâmica. Ainda por cima, é uma artista que cria peças, a meu ver, incríveis! Por reunirem elementos que as conferem um realismo estonteante e pelo toque de leveza e de "descontração" presentes nas suas composições, especialmente a partir das muitas texturas (por ela experimentadas com propriedade de mestre) que inundam suas peças de uma naturalidade ímpar! Tudo isso sem deixar de lado a delicadeza comum apenas àqueles dotados de extrema sensibilidade artística...

Flory Menezes alia, brilhantemente, técnica e sensibilidade e nos apresenta um realismo com doçura, sem "crueza", sem "rigidez". Não é incisivo, é sutil. Não expõe, insinua. Não quer te convencer de nada, simplesmente te faz crer. Porque traz movimento e leveza que se desdobram em gestos e olhares em peças riquíssimas em detalhes, mas aqueles detalhes tão profundos que fazem parecer que suas peças têm alma (e têm!). Daí, ninguém se espantaria se alguma criatura divina, um deus, passando diante de uma peça sua a quisesse soprar nas narinas, só de curiosidade, intrigado... E tampouco causaria espanto se, a partir de um gesto desses, uma peça da Flory saísse de fato caminhando...

Conheça mais sobre as obras e o trabalho da Flory, aqui!

E veja aqui! a primeira peça que fiz enquanto aluna da Flory!
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Coisicas Artesanais - Oxum

4 de dezembro de 2015

Coisicas Artesanais - Bijus


Já tive cá a minha fase de fazer bijus. E foi uma fase "pra valer"! Passava horas montando, encaixando, apertando, enfiando, colando, fechando elo, passando fio... Correntinhas, miçangas, perolinhas, strass, contas de açaí, svarowski... Badulaques, pendentes, penduricalhos, medalhinhas... E algumas dores de pescoço, vista cansada e as pontas dos dedos magoadas e doloridas... Mas depois deixei isso de lado e passei a me dedicar a pequenas peças decorativas.

Tive uma recaída alguns anos atrás quando decidi fazer um cordão para dar de presente de aniversário a uma amiga. Naquela ocasião, (re)visitando as lojinhas de material para confecção de tal prenda, eu tive um (digamos...) pequeno surto pré-criativo de auto-confiança produtiva (?!!?!!!) e comprei material suficiente para fazer colares para dar pr'umas ... 60 amigas!!! 

(Gente... Eu nem tenho 60 amigas!)

Bem... boa parte já vendi naquela ocasião mesmo, presenteei, fiz escambo... Restam ainda estes aqui*, que eu vou vender bem baratinho... pra não ter de voltar com eles pra casa ;)

Ó a xepa, freguesa!

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Pechincha: R$ 8,00 cada cordãozinho (+ frete) VENDIDOS

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Detalhes...


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"Moça bonita não paga mas também não leva" - R$ 12,00 cada (+frete) VENDIDOS



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Penduricalhos para retrovisor - VENDIDOS

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Detalhe: Santo Antônio com fitinha arco-íris ;)  e São Judas Tadeu pras causas impossíveis



Atualizado em agosto de 2019: todas as pecinhas foram vendidas.
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30 de novembro de 2015

Marcos e Noeli - o simples e o transcendental juntos


Conheci o trabalho deste casal querido no festival de cultura paulista Revelando São Paulo, que acontece em quatro edições anuais revelando as tradições culturais daquele Estado em diferentes cidades. No festival (imperdível, aliás! - depois dá uma olhadinha aqui, ó), Marcos e Noeli participam como expositores, representando Santana de Parnaíba. 

Suas peças são esculpidas em madeira e a maioria recebe um acabamento apenas em cera, deixando expostos seus belos tons acastanhados. São peças, geralmente, pequeninas e de uma delicadeza estética ímpar. Entre os temas preferidos do casal encontramos belíssimas representações de São Francisco de Assis, outras do Divino (extensamente difundido no Brasil na figura de um pombo com asas abertas) e de alguns Orixás, além de peças que remetem a um período mais remoto de produção artística iorubana.

Tenho duas peças do casal (por enquanto!). Uma, um Francisquinho agachadinho com as mãos apoiadas sobre as pernas a olhar um passarinho no chão que parece o estar encarando de volta e conversando com ele em "passarinhês"... Toda vez que meus olhos "batem" nesta peça e veem esta "cena" meu coração se enternece (é muito encanto!)... A outra peça é um Francisquinho sentado com as pernas esticadas e a coluna impecavelmente ereta (fazendo lembrar um iogue dedicado). Tem um passarinho pousado na ponta dos pés e outro na mão, erguida na altura do seu rosto.


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São Francisco de Marcos e Noeli


Já havia comentado aqui o meu gosto por representações populares que tiram um santo do seu "lugar comum". São Francisco, por gozar de grandíssima popularidade em muitos países, talvez seja dos santos mais "livres" neste aspecto... Existem representações as mais diversas para Francisco! Francisco com passarinhos, Francisco amparando Jesus na Cruz (numa alusão à atemporalidade da alma e sugerindo o recebimento dos estigmas, as chagas de Cristo, que o santificam), Francisco com um crânio, com um crucifixo (ou com ambos), Francisco sorrindo, Francisco orando...

Os Franciscos de Marcos e Noeli são simples. De uma simplicidade profunda e bela - franciscana, eu diria até. Sem adornos, sem cores, sem demais elementos que "mascarem" o essencial, sem "desimportâncias". Com tanta simplicidade, o foco se volta para a força da cena que se representa - sempre gentil, doce, despretensiosa. E por isso estas peças são tão encantadoras! Porque nelas você vê Francisco, não a criatura revestida de intangível santidade, mas o homem simples com alma desnuda de menino, curioso diante dum passarinho ou placidamente confiante e sereno diante de um lobo e para quem, naquela representação, aquele momento (o passarinho ou o lobo) parece ser a coisa mais importante no mundo...

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São Francisco de Marcos e Noeli


Além desta característica, há uma outra que também me agrada muito na obra do casal. É que a simplicidade de suas peças transcende a "cena" e percebe-se presente também nos próprios traços do seu entalhe, permitindo que a madeira seja parte da representação artística, de modo particular e intrínseco. A madeira passa a ter um papel importante, servindo de abrigo para as figuras que a ela se ajustam em nobres e generosos gestos de caber-se, de incorporar-se.... 

Este aspecto, de um certo modo, parece que dialoga com a simplicidade prima e rudimentar das peças que remontam à tradição iorubana, também produzidas pelo casal. Quando você vê, lado a lado, seus Franciscos e seus ícones iorubanos nas exposições de que participam isso parece muito claro. O "traço" do entalhe destes se comunica com o "traço" do entalhe daqueles.

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Oxum de Marcos e Noeli

Ademais, é certo que este traço característico nas suas peças está, antes, na alma do artista e passa da sua alma para as suas mãos e, destas, para o que ele cria. Afinal, uma criação não é senão o aflorar material de conteúdos imateriais que carregamos cá dentro... Neste sentido, a obra de Marcos e Noeli é carregada de elementos simbólicos e pequenos diálogos em diversas camadas de ancestralidade. Causa impacto pela simplicidade e porque, ali, sem que nos demos conta exatamente, estamos diante de elementos que fazem contato com o transcendental que habita em nós.

Conheça o trabalho de Marcos e Noeli aqui, ó!
 
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Leia aqui a entrevista que Marcos e Noeli concederam ao Coisicas Artesanais! 
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Revelando São Paulo