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9 de janeiro de 2018

Entrevista com Felipe Callipo


Oba! Mais uma entrevista aqui no Coisicas! Adoro! :)

Acho que já disse aqui o quanto eu curto de montão essa sessão de entrevistas, né? Sim, porque é uma oportunidade muito bacana de conhecer um cadiquinho mais o artista por trás da obra e a pessoa por trás do artista...

Felipe Callipo é uma pessoa e um artista que eu admiro muitíssimo! O artista, que faz um trabalho belíssimo e conscientemente representativo da produção barroca ocorrida no Brasil nos tempos de colônia, eu já mostrei em outro post - leia aqui.

Agora vos convido a conhecer também a pessoa, "o cara", o Felipe "figura", o jovem simpático, bom de prosa, espirituoso e acessível, ao mesmo tempo brincalhão e discreto... 

Já havia algum tempo eu estava "me devendo" (e ao Coisicas) tirar uma horinha para sentar com ele e ter essa prosa. E eis que chegou a ocasião!

Cosicas Artesanais - Felipe, onde você nasceu e em qual data?
Felipe Callipo - Nasci em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, no dia 16 de setembro de 1978.

C.A. - Quais eram suas brincadeiras preferidas na infância?
F. C. - Era só futebol.

C.A. - Só futebol??
F.C. - Só, rs.

C.A. - Bola de gude, pipa... nada?
F. C. - Só futebol, rs...

C.A. - Rs... Tá... Nessa época você já tinha contato com o barro, certo? 
F.C. - É, porque eu aprendi a fazer com o meu pai, então, né... rs

C.A. - Sim... Aliás, o teu pai é um cara que eu também quero "trazer" aqui no Coisicas um dia, pra  mostrar o trabalho dele... Tô me devendo mais essa, rs... Bem..., na infância, você pensava em se tornar o quê quando crescesse? Ser escultor, assim como o teu pai, passava pela tua cabeça?
F.C. - Não. Eu sempre pensei em ser advogado, mas aí não tive dinheiro pra fazer a faculdade, aí eu fiz química, rs... Mas também não queria trabalhar em fábrica, porque eu sou meio preguiçoso, rsrs... Aí fiz artes, aí nas artes deu certo! rsrs...

C.A. - Ufa, ainda bem! Rsrs...  Então você fez escola de artes?
F.C. - É, fiz faculdade de artes. Porque o meu pai dava aula numa faculdade e porque ele falou que se eu queria ser um artista eu tinha que ter uma formação.

C.A. -  Humm... Você cresceu vendo o trabalho do teu pai e também já criava as tuas próprias peças e, então, veio a faculdade... Você acha que o aprendizado acadêmico mudou alguma coisa no teu modo de fazer as tuas peças?
F.C. - Não. Só que eu comecei a valorizar mais o popular... Eu gostava muito de arte renascentista, ah! Aquelas coisas maravilhosas, gigantes! E eu comecei a valorizar o popular. Mas foi participando e vendo e indo em museu... E hoje eu dou muito mais valor ao popular que ao erudito.

C.A. - Curioso, isso... Porque é muito comum ocorrer o oposto, né?... Que, após passar pela academia, alguns olhares releguem o popular a segundo plano ou o considerem "coisa menor"...
F.C. - Ah! E como eu posso?? O popular é a minha base, eu nasci no meio disso, faz parte da minha vida!

C.A. - É mesmo... E é muito interessante esse teu relato... Porque mostra a força cultural que o meio em que estamos inseridos exerce sobre nós, moldando nossas preferências, influenciando nossas escolhas, nossos modos de expressão (moralmente ou esteticamente)... E, vem cá... Quando vc se deu conta de que isso era "pra valer", de que isso seria o teu trabalho?
F.C. - Ói, é... acho que... quando eu tinha uns vinte, vinte e poucos anos, que eu comecei de fato a fazer peças com mais afinco, pra vender...

C.A. - E as peças sacras? Em que momento você passou a esculpir santos? Movido pelo quê?
F.C. - Ah, desde o começo... Comecei fazendo Divino. Quando era moleque, fazia Divino Espírito Santo. Eu sou de Mogi das Cruzes, lá isso é muito forte...

C.A. - Mais uma vez a força do meio... ;)
F.C. - É... E porque vendia muito também! rsrs Aí, uma coisa junta com a outra... rs

C.A. - Rs, tá certo... Bem, a demanda não deixa de ser também uma força (e contundente!) do meio, rsrs... Felipe, é correto afirmar que a tua linguagem é barroca, né?
F.C. - É... Eu busco o barroco paulista.

C.A. - Por quê?
F.C. - Porque tá acabando, ninguém mais faz... Eu não conheço 3 pessoas que fazem isso que eu faço, e é triste isso.

C.A. - O que te inspira nas tuas criações artísticas?
F.C. - Deixar alguma coisa pro futuro, porque eu tô vendo que hoje ninguém tá deixando nada pro futuro... Se a gente não deixar alguma coisa... vai ficar feio daqui a alguns séculos...

C.A. - Como foi no começo?
F.C. - Nossa!... O começo é difícil! Na verdade é difícil até hoje! rs... Mas no começo é muito mais difícil... Pra vc conseguir achar uma linha de trabalho, se encaixar no mercado... É complicado. Depois que encaixou, vai embora, a coisa segue, mas até chegar aí... é difícil, viu?...

C.A. - Você considera que hoje já está "encaixado"?
F.C. - Ah, eu já tenho um certo conhecimento do que eu tenho que fazer pra me dar bem, então é tranquilo.

C.A. - Felipe, você tem alguma dica ou mensagem que possa deixar para quem está começando a trilhar o caminho da cerâmica e da produção artística de imagens sacras?
F.C. - Não desistir. Porque... Acho que quando faltar um pouquinho pra alcançar, assim, vai dar uma vontade imensa de desistir, mas é não desistir. Eu tive dois, três amigos que tinham um trabalho muito bonito e que desistiram. Fui no shopping e vi um desses caras trabalhando numa loja de vender celular... Me cortou o coração, porque é um "p...to" dum artista! O financeiro falou mais alto, ele teve que buscar uma fonte de renda, mas dói o coração, então, a mensagem é não desistir!

Já em "OFF", com o gravador desligado...
Simone - Poxa, Felipe, super valeu! Obrigadíssima! Demais da conta!
Felipe - Ué!... Era só isso? Já acabou??...
Simone - Cabô-ué! Cê tá pensando que isso aqui é programa de televisão?? Rs...
Felipe -  Ah! Eu achei que tinha mais! Rsrs...

Coisicas Artesanais - Entrevista com Felipe Callipo
Felipe se divertindo em breve pausa de 'poses-chacota' impagáveis (e impublicáveis, rs...) 
feitas para as lentes do Coisicas Artesanais, enquanto trabalhava algumas de suas peças.
Revelando São Paulo - SP, dezembro de 2017 - Foto: Dagô

Felipe, querido! Muuuuuuito grata por essa entrevista aqui para o Coisicas! Te admiro muitíssimo, muito mesmo! Tanto pelo teu trabalho, que é de tirar o chapéu e que, mesmo sendo "popular", está carregado de erudição (se me permite o atrevimento de tal comparação, rs), como pela pessoa bacana, simples, simpática e super acessível que você é! Muito agradecida! É uma grande honra ter você proseando aqui  conosco no Coisicas! :)

Que você continue construindo e trilhando esse caminho tão belo e de maneira tão consciente (tão sabedora do que quer!), buscando nas tuas raízes, nas bases da tua formação enquanto indivíduo e nas coisas que aprendeu com teu pai, os elementos de que precisa para transformar fé e cultura típicas da nossa identidade popular em verdadeiras Obras de Arte!
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6 de dezembro de 2017

Entrevista - Um 'dê di próz'* com Renato Magalhães

* legenda para os menos familiarizados ao mineirês: dedo de prosa.


Hoje eu venho publicar uma entrevista que fiz recentemente com Renato Magalhães, artesão que conheci há alguns anos na feira da Afonso Pena, na capital mineira. Homem admirável, de personalidade forte (porém de uma humildade e brandura que contagiam), Renato (justamente por conta de tanta humildade) me deu certo trabalho...

Para começo de conversa, fiquem vocês sabendo que ele não queria que eu escrevesse sobre seu trabalho aqui no Coisicas (e eu só escrevo sobre o trabalho de artistas/artesãos que me permitam fazê-lo)... A verdade é que Renato não quer holofote, não busca reconhecimento... (então para quê quereria uma publicação na internet sobre a beleza do que faz??).

Para um artesão tão desprendido de vaidade como ele, argumentos do tipo "o teu trabalho pre-ci-sa ser conhecido por mais pessoas!" (ou, o que seria mais justo dizer: "as pessoas pre-ci-sam conhecer o teu trabalho!") não causam comoção... Tive de persuadi-lo, então, com outro argumento - e mais contundente: uma publicação no Coisicas Artesanais, um blog com talvez 6 leitores, não seria capaz de tumultuar a pacatez da sua vida de artesão anônimo... ;)

Diante de tão forte e incontestável argumento, Renato acabou cedendo ao meu assédio e me autorizou a falar de seu trabalho. Coisa que, aliás, fiz na hora! (Antes que ele pensasse um pouco mais e mudasse de ideia! rs)... Isso foi há quase dois anos. Leia aqui o post publicado à época.

Bem, brincadeiras à parte, nós dois ficamos muito felizes quando uma moça de Fortaleza, que estava em BH a trabalho, chegou este ano lá na sua barraquinha dizendo que havia rodado a feira inteira "catando ele" e que o estava procurando porque tinha lido sobre o seu trabalho num blog de artesanato... (Ai, gente!!! Teria eu 7 leitores e não 6 como penso?? rs).

Percebendo a alegria que sentimos com aquele contato/feedback inesperado, achei que era chegado o momento de, finalmente, propor ao Renato uma entrevista aqui para o Coisicas...

E não é que ele topou de pronto?! =)

Coisicas Artesanais - Renato, onde você nasceu e em qual data?
Renato Magalhães - BH, 1963.

C.A. - Na infância, quais eram as tuas brincadeiras favoritas? Você tinha já algum contato com a argila?
R.M. - Não... Era brincadeira de criança mesmo, mas eu fazia os meus brinquedos, gostava de jogar bola...

C.A. - Que legal! Outros artesãos que já entrevistei aqui também contaram que criavam seus próprios brinquedos na infância... Quais brinquedos você fazia?
R.M. - Eu fazia aviões, ônibus, de isopor, de papelão..., carrinho de rolimã... Eu gostava de origami também, né... Tem coisa que eu lembro como faz até hoje, muitas eu já esqueci, eu tinha 9 anos quando fazia essas dobraduras...

C.A. - Que legal, Renato! E, nessa época, você sonhava em ser o quê quando crescesse?
R.M. - Ah, eu não tinha noção ainda do que eu queria... Eu gostava mesmo de desenhar...

C.A. - Então você desenhava??
R.M. - Desenhava...

C.A. - E desenhava o quê?
R.M. - Olha, meus desenhos eram variados.... na adolescência era mais psicodélico, gostava de preto e branco, luz e sombra... Fiz até um autorretrato meu.

C.A. - Nossa! Que bacana! Agora eu fiquei curiosa, quero ver esse autorretrato um dia! ;) E, vem cá..., antes de trabalhar com argila, criando suas mandalas e seus colares, você trabalhou com alguma outra coisa?
R.M. - Ah... várias coisas... Desde trabalhar com floricultura, bem novo, ajudando meu tio... Tive carteira de trabalho assinada com 14 anos... Empresa de transporte, almoxarifado, empresa pública...

C.A. - De tudo um pouco?
R.M. - É...

C.A. - E você acha que essas experiências tão diversas ajudaram a formar o Renato que você é hoje?
R.M. - Ajudaram... porque você vê muita coisa, tem noção de tipo de pessoas, a visão do lucro, as pessoas ali... Ver algumas coisas me desgostou até, me fez até querer sair...

C.A. - Te fez perceber que você queria outra coisa pra tua vida?
R.M. - É... eu não queria passar por aquilo não, rs...

C.A. - E em qual momento da vida você "encontrou" a argila e passou a fazer artesanato?
R.M. - Ah, já desde os 16 anos... Tinha uma cerâmica perto de casa e eu comecei a fazer uns desenhos nos jarros de um amigo. Eram desenhos que eu já fazia em papel... e comecei a passar pro barro. Aí eu gostei de trabalhar com cerâmica, que tem os quatro elementos da natureza, e aí não parei mais...

C.A. - Nossa... Que interessante isso, Renato... Porque o desenho parece que esteve sempre presente como uma necessidade expressiva tua, desde a infância, né? Você gostava de desenhar quando menino; começou fazendo desenhos em papel (fez até autorretrato!). Depois, foi passando os teus desenhos pra jarros de cerâmica e, hoje, as tuas mandalas têm um elemento pictórico muito marcante, trazendo formas, linhas e contornos tão cuidadosamente elaborados! Bem..., o desenho, eu acredito que seja mesmo uma habilidade inata, um dom teu, mas... e a argila? Alguém te ensinou alguma técnica para o trato com a argila ou isso foi um aprendizado intuitivo?
R.M. - É... Olha... eu desenvolvi muita técnica própria e aprendi com muita gente, observando as pessoas trabalhando.

C.A. - Hum... Você se considera um bom observador?
R.M. - Sim...

C.A. - Renato, você acredita que a dedicação ao artesanato é capaz de nos ajudar em processos de cura?
R.M. - Olha... Não sei desse negócio de cura... Pra mim, quem cura é Deus. O que eu acho que acontece é que quando você se determina a fazer alguma coisa, qualquer coisa, você muda o foco.

C.A. - Muda o foco e, daí, abranda a dor??

R.M. - É. Aí você fica melhor...

C.A. - Você acha, então, que é uma questão de propósito e determinação?
R.M. - É. Porque... qualquer coisa que vc faça, se te distrai, te tira da dor e você consegue vencer... Às vezes meu filho me chama pra brincar e eu tô cheio de dor, mas ali na hora, brincando com ele, parece que não tem a dor...

C.A. - Renato, você gostaria de deixar alguma mensagem para os nossos talvez 6 ou 7 leitores? ;)
R.M. - Ah... ter sempre confiança no que gosta, porque o maior valor é você ter uma satisfação profissional, o dinheiro é só consequência... Então é você trabalhar, não pelo dinheiro, mas pelo prazer de trabalhar.


Coisicas Artesanais - Entrevista com Renato Magalhães
As mãos do artista...

Coisicas Artesanais - Entrevista com Renato Magalhães
... e suas peças, expostas na feira da Afonso Pena, em BH.

Renato, querido, muito grata, demais da conta mesmo, por esse dedin de prosa aqui pro Coisicas! Por mais que eu já tenha dito isso pessoalmente, mais de uma vez até, acho que você não pode imaginar o tamanho da minha alegria e o prazer que você me proporcionou quando me autorizou a escrever sobre o teu trabalho e ainda mais agora, com essa entrevista. Por isso, mais uma vez eu digo: lhe sou muito, muito grata!

Desejo tudo de mais lindo pra você, que Deus continue te fortalecendo e te inspirando a se superar, a surpreender e a criar e recriar a beleza nas tuas peças, tão delicadas e únicas!

Muita Luz e belas inspirações sempre pra você!

Aos leitores que estejam por BH e queiram visitar a barraquinha do Renato sem ter que "fazer a gincana" rodando a feira toda procurando por ele, vou deixar a dica para ficar mais fácil encontrá-lo. A feira acontece sempre aos domingos, na Av. Afonso Pena (entre a rua da Bahia e a Guajajaras) e o Renato fica no setor das cerâmicas, no lote das barraquinhas de cor vermelha e branca, pertinho da calçada do Palácio das Artes. O "endereço" é este:

Setor G - Fila 5 - Barraca 15

Anota direitinho pra não se perder, porque a feira é graaaande! ;)
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29 de maio de 2017

Coisicas Artesanais - Nossa Senhorinha (estilizada) da Expectação - e breve oração pra 'criança interior' em dias de pirraça...


Uns dois anos atrás eu ganhei de uma amiga mais que querida, radiante e iluminada, a , um potão com argila azulada umedecida, pronta para esculpir e/ou modelar. Na ocasião, ao me dar aquela prenda inesperada, ela me disse que não se tratava exatamente de um presente, mas de "possibilidades"... ;)

Confesso que estremeci diante das possibilidades (e de tamanha "responsa"!)... E a inspiração (acanhada com meu estremecimento) custou a me visitar... Ou, melhor dizendo, eu custei a percebê-la (visto ser ela demasiado delicada e gentil - especificamente neste caso)... 

Nas primeiras vezes que tomei aquela argila pra brincar, eu partia já com mil ideias preconcebidas e projetos na cabeça. Não estava sensível, portanto, à "argila-ela-mesma", ou ao que ela poderia ter a me dizer (sim, a argila!)... Acabava aquelas experiências invariavelmente arrasada: sem nenhuma peça concluída e tendo tomado verdadeiras sovas! 

Foi apenas em fevereiro deste ano que a argila conseguiu de mim o que queria ;)

Me pegou desprecavida e me arrebatou. Já chegou me dando um nó na garganta quando eu estava distraída em casa e me causando um desconforto d'uma vontade que eu não compreendia bem o que era.... Um insight me acudiu nessa hora: "pega a argila!"... Corri pra argila, cortei um pedaço e comecei... "Vou fazer um anjo", pensei. E iria incorrer no mesmo erro das experiências anteriores se no meio do processo não tivesse cedido à insinuação (dessa vez acintosa e gritante) de uma curvinha acinturada e uma saliência de barriguinha que me indicavam outra direção... Me deixei levar...

Em coisa de vinte minutos, sem que eu atinasse para a minha real contribuição ali, vi "brotar" das minhas mãos a figura de uma Nossa Senhorinha barrigudinha, dona de um coração enorme emanando afeto peito afora: minha Nossa Senhorinha (estilizada) da Expectação. Pecinha carregada de uma simbologia delicada de amor materno, de carinho, acolhimento, afago, proteção...

Simone dos Santos - Coisicas Artesanais - N. Sra. da Expectação
Minha Nossa Senhorinha (estilizada) da Expectação

Simone dos Santos - Coisicas Artesanais - N. Sra. da Expectação
Por outro ângulo...

Esta pecinha não está à venda... Porque no meio do processo de arrebatamento (digo, de criação) eu me esqueci de alguns cuidados básicos que deveria ter tomado e, por isso, não pude fazer a sua queima, o que a torna muito, muito frágil. Por isso, esta belezinha ficará num cantinho especial aqui de casa, a me lembrar da lição aprendida e a me inspirar novas e futuras... possibilidades! ;)


* * *

Embalada por certa "aura mariana" que parece ter me inspirado a partir da prenda que ganhei da Fê (uma pessoa, aliás, super antenada com essa energia feminina e acolhedora de uma Grande Mãe que envolve a tudo e a todos), aproveito para publicar aqui um poeminha-oração que fiz num outro momento de "arrebatamento" (ou conexão...). Simplezinha e singelinha, é bastante eficaz para aqueles momentos em que a nossa "criança interior" está de birra e faz beicinho só porque precisa se saber acolhida num colinho bom... ;)

Ave Maria, cheia de graça,
Mãe de bondade e compaixão,
ilumina meu caminho,
inspira minha alma,
me enche de Amor, Alegria, Gratidão!

 
 /|\

Simone dos Santos - Minha Nossa Senhorinha da Expectação

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28 de março de 2016

Felipe Callipo - santeiro barroco em pleno século 21


Conheci Felipe Callipo e seu belíssimo trabalho no pavilhão de artesanato do 'festival' de que tanto tenho falado por aqui: o Revelando São Paulo. No Revelando, Felipe representa sua cidade, Pindamonhangaba, expondo suas peças de grande valor artístico.

Felipe é santeiro à moda antiga: faz santos barrocos com toda a expressividade e paixão dignas duma peça do autêntico Barroco - estilo artístico impulsionado pela Igreja (a católica, única dominante no mundo ocidental de outrora) em "resposta" à Reforma Protestante, quando valores e conceitos que passavam a ser condenados e abandonados por esta (como o luxo nos templos ou a legitimidade da "santidade" dos santos, por exemplo) foram retomados com força total e ainda maior calor "glorificante", graças à linguagem barroca, cheia de apelos plásticos sensoriais de que se valeu a Igreja para causar maior comoção em suas "ovelhas" e "capturá-las" num sentimento de "fidelidade" e "dever cristão".

O mais interessante disso tudo, a meu ver, é que essa linguagem barroca (sob o aspecto da plasticidade) adquiriu, no Brasil, caminhos e saídas "sinuosos" (como a própria estética Barroca, aliás), de um modo todo especial, tornando-se (ouso dizer - em coro com outros que já o disseram antes) a manifestação artística onde, pela primeira vez, pudemos passar a apreciar traços, aspectos e soluções nossos, em ruptura com moldes e padrões estéticos que vinham (como sempre, então) de Europa. O Barroco, no Brasil, teve um aspecto ímpar. Aqui ele ganhou nuances mestiças, a nossa "cara" e o nosso "jeitinho". 

Desde as feições "sem igual" dos personagens de Antônio Francisco Lisboa (o "Aleijadinho"), extremadamente angulosas e dramáticaspassando pelo "improviso" das colunas de madeira com pintura marmorizada (na falta da pedra valorosa e autêntica) e das singelas e pueris "Paulistinhas" (como ficaram conhecidas algumas peças, produzidas sobretudo no Vale do Paraíba, que traduziam o desejo das camadas mais pobres da população de também poderem manifestar e viver a sua fé dentro de suas casas); até a "ousadia" de se retratarem Madonas e anjos de 'traços mulatos' em pinturas no interior de algumas igrejas - como o fizeram Manoel da Costa Ataíde, em Minas Gerais, e Padre Jesuíno do Monte Carmelo, em São Paulo... Por tudo isso o Barroco, aqui, teve aspectos reveladores de uma identidade brasileira - ainda em formação.

Sobre um dos 'anjos mulatos' do Padre Jesuíno do Monte Carmelo há uma história (no mínimo, gracejosa) que eu não posso deixar de replicar aqui. Mário de Andrade a publicou. Diz que, ao ser questionado por um seu superior por que razão um dos anjinhos que pintava no teto da igreja estava "saindo tão escuro", Padre Jesuíno teria respondido que "faltou tinta, senhor Lourenço, faltou tinta!" ...

Podemos dizer que o Barroco se manteve fértil no Brasil lá pelos idos de milessetecentos, mileoitocentos (e tataravó mocinha), mas é certo que os aspectos da sua produção artística permanecem influenciando o fazer criativo de nossos artistas e artesãos até os dias de hoje, de modo consciente em alguns casos ou, em outros, entranhado nas nossas reminiscências subjetivas - aquelas que carregamos e expressamos sem o saber, sem que nos apercebamos delas ou pensemos a respeito.

Felipe Callipo é moço novo. Deve ter seus trinta e tantos anos (37, ele me confirmou). E se dedica, dentre outras coisas, a criar santos barrocos. E o faz de modo incontestável... e placidamente! Porque o Felipe cria com o "pé nas costas" e de "olhos vendados" (afora a maestria!) peças que referenciam (e reverenciam!) a produção artística do período barroco no Brasil. Formas sinuosas, volumes e policromias se revelam em expressões cheias de sentimento, panejamentos exuberantes e figuras corpulentas, com barriguinhas salientes ou bochechas gorduchas em rostos angulosos de nariz caprichosamente afilado... Felipe Callipo lança mão dos padrões estéticos, dos conceitos e da expressividade típicos do nosso Barroco mais rico, criando Anjos, Santos e Nossas Senhoras que facilmente poderiam ocupar altares nas igrejas históricas do nosso país sem causar estranheza alguma, dando-nos a clara impressão de que sempre estiveram ali!


Coisicas Artesanais - Felipe Callipo e o Barroco no século 21
Lindíssima e arrebatadora Conceição de Felipe Callipo! - Foto: Simone dos Santos

Felipe Callipo cria peças de uma beleza barroca que eu diria arrebatadora! É impossível não ficar imantado diante de uma obra sua - mesmo que você nunca tenha se interessado pelo barroco! O seu traço, afinal, para além dos conceitos estéticos classificatórios deste ou daquele estilo, é de uma força e de uma expressividade comoventes! Te tocam, te seduzem, te tomam, te inspiram... Te fazem viajar no espaço e no tempo... 

Coisicas Artesanais - Felipe Callipo
Padroeira de "Pinda" - Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Felipe Callipo.
(Poderia estar num templo barroco do interior do país, não?) 
 Foto: Simone dos Santos

Apesar de tão novo, o Felipe é muito consciente da sua arte, é um estudioso. E artista carismático. Das vezes que o encontro no Revelando, o Felipe sempre me instiga a estudar mais, a conhecer mais. Fala de barroco e, sobretudo, do barroco paulista (pouco (re)conhecido no Brasil), fala de exposições imperdíveis, mostra fotos, conta sobre livros de arte recém-adquiridos... No período em que eu fazia aulas de escultura, o Felipe, sabendo disso e ouvindo o relato das minhas dificuldades, fazia "narizes" e outras partes de corpo para me mostrar como é fácil (!) - infelizmente, nunca pude concordar com ele... E, obviamente, ele também fala de outros assuntos... como, por exemplo, futebol (com meu marido. Nessas horas eu fico "boiando" e aproveito para fazer fotos das suas obras expostas...). É um cara incrível que, mais que difundir e vender suas obras, quer compartilhar conhecimento! É certo que tenho aprendido muito com nossas prosas, enquanto ele vai criando novas peças ali mesmo no pavilhão de artesanato do Revelando São Paulo, onde constantemente nos encontramos. 

E é incrível como, no meio duma "prosa besta", contando "causos" e "jogando conversa fora", as mãos do Felipe vão erguendo figuras imponentes, solenes ou sofridas, dum certo barroco brasileiro, assim... como quem nada quer... Por isso eu disse que ele cria obras "com o pé nas costas e de olhos vendados". Porque muitas vezes eu o vejo criando peças belíssimas com a naturalidade e a despretensão de quem descasca uma laranja distraidamente... Ele está ali conversando com você, proseando e te dando atenção, mas o que ele está criando nesses momentos "à toa" são peças de inegável valor artístico, carregadas de força e dramaticidade barrocas!

Coisicas Artesanais - Felipe Callipo
Ainda inacabado: conversa vai, conversa vem, assistimos a este Francisco Xavier nascendo das mãos de Felipe.
 Foto: Simone dos Santos

Quem quiser conhecer mais um pouquinho do trabalho desse artista incrível, cheio de um carisma discreto e dono de um talento sem medidas, pode acessar sua página e se encantar de beleza barroca! Aqui, ó: Oficina do Barro.


Leia aqui a entrevista que Felipe Callipo concedeu ao Coisicas Artesanais!
  
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Breve roteiro barroco MG/SP para amantes do tema (ainda que iniciantes e/ou leigos como eu) - Viagens, passeios e leituras sugeridos:


Aproveitando que, neste post, eu falei dum cara que me inspira sempre a buscar mais conhecimento, quero também compartilhar algumas dicas extras sobre "coisas" que foram comentadas aqui - para o caso de elas terem causado curiosidade em alguns dos meus (talvez 6) leitores... 

Para se impactar com a verdade das feições angulosas e a expressividade dramática dos personagens de Aleijadinho, vá a Congonhas do Campo, em Minas Gerais, e visite a Basílica Bom Jesus de Matosinhos, sobretudo as Capelas dos Passos, na subida para a Basílica. Também lá, sobre o muro que cerca o adro, estão os seus Profetas.

Para ver de perto a Nossa Senhora mulata de Manoel da Costa Ataíde, visite a Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, também em Minas Gerais. Lá dentro, sua "Assunção", ou "Porciúncula", no forro da nave principal (provavelmente a obra mais conhecida e comentada de sua autoria) revela uma Nossa Senhora de feições negras e de pele parda - como a minha (e, talvez, também como a tua). 

Obs.: Tanto em Congonhas como em Ouro Preto é possível apreciar a arte de ambos, Aleijadinho e Mestre Ataíde, com obras por um esculpidas, pelo outro pintadas. 

Sobre a produção das Paulistinhas e sobre seu mais conhecido artista popular, Dito Pituba, o médico e pesquisador Eduardo Etzel deixou livros interessantes publicados a respeito (estão esgotados, mas ainda é possível encontrá-los em sebos). 

Para ver de perto peças do barroco paulista e, sobretudo, as pitorescas Paulistinhas, faça uma visita (ou muitas!) ao Museu de Arte Sacra de São Paulo (do ladinho da estação Tiradentes do metro paulistano). 

Ainda em São Paulo, no Museu Afro Brasil, é possível visitar uma sessão dedicada exclusivamente aos aspectos artísticos/estéticos do legado negro nas obras do período colonial brasileiro. (Aleijadinho e Padre Jesuíno também são lembrados aqui). O museu fica dentro do Parque Ibirapuera.

Sobre vida e obra do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, há um livro de título homônimo escrito por Mário de Andrade (o último de seus livros, aliás) em que o pesquisador, após levantar dados documentais e baseados em relatos orais, "recria" a história do padre mulato, viúvo e pai de quatro filhos vivos, numa espécie de "conto biográfico" - como o próprio autor classificou. Indico a edição de 2012, que (além da história deliciosamente escrita por Mário de Andrade) traz artigos e fotografias, bem como algumas notas do autor que não constaram das edições mais antigas).

A maior parte dos afrescos pintados por Padre Jesuíno retratando alguns anjos e santos mulatos se encontra nas igrejas da cidade paulista de Itu, sobretudo a de Nossa Senhora do Carmo. Na cidade também há uma igreja erguida por ele com ajuda de seus filhos: Nossa Senhora do Patrocínio.

E sobre a formação da identidade cultural brasileira, não se atendo ao tema do barroco, mas tratando das nossas brasilidades num panorama mais amplo, o livro "Histórias Mestiças", com organização de Adriano Pedrosa e Lilia Moritz Schwarcz, traz uma seleção de textos documentais e resenhas com relatos e reflexões escritos e publicados desde os primeiros anos do nosso "descobrimento" até a modernidade.

Boas leituras e ótimas viagens! :)
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Coisicas Artesanais - Mais um Divino


Revelando São Paulo

22 de janeiro de 2016

Renato Magalhães - Mandalas rendadas do barro do chão


Conheci o trabalho do Renato uns 3 ou 4 anos atrás, passeando pela incrível (e gigantesca!) feira da Afonso Pena, em BH. Quem conhece a feira sabe o quanto é difícil passear por ela, seja porque ela tem "zilhares" de barracas (e você vai querer parar em quase todas para dar uma "bisoiada"), seja porque ela está sempre cheia de outras muitas pessoas que vão lá fazer o mesmo que você, seja porque as barraquinhas são muito juntinhas e o espaço é pouco para tanta gente, seja porque a feira funciona só pela manhã (praticamente)... Ou ainda por todos esses fatores acontecendo ao mesmo tempo e no mesmo lugar! Fato é que passear pela feira e garimpar as coisas maxi-bacanas que ela oferece acaba tendo um certo ar de gincana! (Deliciosa, diga-se de passagem!).

E imagina que foi num ambiente desses que meus olhos vislumbraram de longe, num reduzido campo de visão (entrecortado por pessoas, barracas, mais barracas, pessoas e mais pessoas...), algo que me chamou a atenção. Era possível ver "pedaços" de uma obra que parecia cerâmica, parecia renda, parecia tão bonito... Isso com pessoas passando na frente e outros  2 corredores de barraquinhas que eu teria de transpor para chegar mais perto... 

Pelas cores terrosas (que eu amo) e pelos desenhos que, de longe, meus olhos não conseguiam decifrar direito, eu fui seduzida, atraída feito ímã a chegar mais perto para ver do que se tratava... Que peças mais ricas! Pequenas, singelas mas de uma beleza indescritível! Cheias de informação, de texturas, de figuras e desenhos de uma minúcia barroca! E de um esmero, de uma delicadeza... que faziam uma peça de cerâmica mais parecer uma renda macia ao toque! Meu queixo caiu diante de tanto primor! 

O Renato é daqueles artistas que fazem um trabalho único, em nada parecido com nenhuma outra coisa que se vê por aí! E ele une dois elementos que, para mim, são de um valor, mais que estético, cultural/transcendental riquíssimo: a argila (com seus lindos tons naturais e a sua intrínseca referência à terra, ao chão que nos abriga e nos dá de comer...), e os desenhos primorosos que, justapostos e entrelaçados cuidadosamente, lembram o tramado das mais belas rendas que vêm sendo feitas há séculos por nossas tias e nossas avós mais remotas! 

Coisicas Artesanais - Renato Magalhães e suas "rendas do chão"
Cada pequeno desenho, cada "sulco", cada relevo ou depressão, cada espaço para luz e sombra que o Renato imprime em suas mandalas, ele o faz com pequenas ferramentas criadas por ele próprio. Um trabalho minucioso, de dedicação e paciência extremas!


Renato Magalhães cria mandalinhas de diversos tamanhos, desde umas bem "pequeticas" (um pouco maiores que uma moeda de 1 real - e que são vendidas como cordão), até umas maiores (de 6 ou 12 cm de diâmetro) para pendurar em paredes...  E o mais bacana, além de tudo, além da beleza ímpar e da riqueza visual das suas peças, é que elas também podem ser usadas como aromatizantes pessoais (pois preservam a porosidade da cerâmica por se tratar de peças não esmaltadas, o que as torna indicadas para aromaterapia com óleos essenciais... - e quem conhece o poder terapêutico desses óleos, sabe que isso não é pouca coisa!). Essas como a da foto acima, além de poderem ser pregadas na parede, têm também um furinho que as transpassa e permite que sejam usadas ainda como um delicado incensário sobre uma cômoda ou outro móvel qualquer...

 
Coisicas Artesanais - Renato Magalhães: rendas de chão
Os colares do Renato: pra levar no peito delicadas mandalas e cheirinhos de aconchego ...

Naquela primeira ocasião em que me deparei com esse trabalho lindo do Renato, eu comprei 6 colarezinhos e mais duas mandalinhas de 6 cm. Acabei dando tudo de presente! Fiquei só com um cordão para mim. Depois fui lembrando de outras amigas que eu queria presentear e, estando de novo em BH, voltei à feira para comprar mais cordões. Já presenteei amigas de longa data, amigas de "pouca data", sogra, professoras, colegas, conhecidas... E até "desconhecidas"! Uma vez, eu tinha acabado de comprar vários cordõezinhos com o Renato e fui direto pro teatro (era uma sessão "matinê", para crianças) mas a peça (de uma companhia de bonequeiros muito famosa em Minas) já estava com a lotação esgotada! Fiquei triste demais da conta... e uma mocinha da produção (uma fofa!), vendo o meu desapontamento, me cedeu uma entrada "mágica" (e ainda por cima gratuita), me colocou lá dentro para assistir! Me senti tão agradecida pelo seu gesto que queria retribuir de algum modo. Não pensei duas vezes: catei na minha bolsa um colarzinho do Renato (dos, acho que 10, que eu havia acabado de comprar naquela ocasião) e dei pra ela, em agradecimento. Ela ficou tão feliz, mas tão feliz com o colarzinho, que a sua reação de surpresa e alegria me encheu de alegria também!...

Nessa brincadeira aí já foram umas 4 ocasiões de eu chegar lá na feira e quase que esvaziar a barraquinha do Renato - que, aliás, produz poucas peças, já que a sua relação com essa arte é fazer dela a sua pura, grande e verdadeira terapia, a sua fonte de cura, de bem-estar e prazer... Impossibilitado de manter seu emprego formal, por conta de um problema de saúde que ataca seus ossos e causa muitas dores por todo corpo, o Renato encontrou nessa arte delicada uma forma de vencer a dor, fazendo-se mais forte que ela...

Ali, naquela feira, eu tive a oportunidade de conhecer uma criatura iluminada! Porque o Renato Magalhães tem um espírito transformador, é um homem obstinado que transmuta dor em arte e transforma a terra, pura e simples, em lindos trabalhos rendados... O Renato é um artista delicado, que consegue a proeza de criar, com suas mãos, lindas rendas de chão...

Coisicas Artesanais - Renato Magalhães: rendas de chão

Coisicas Artesanais - Renato Magalhães: rendas de chão
   
Coisicas Artesanais - Renato Magalhães

Leia aqui a entrevista que Renato Magalhães concedeu ao Coisicas Artesanais!

E veja ao final deste post aqui algumas dicas sobre óleos essenciais ;)
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5 de dezembro de 2015

Flory Menezes - Realismo e delicadeza


Quem anda lendo postagens minhas por aqui já deve saber que fui aluna da Flory Menezes - num curtíssimo mas delicioso espaço de tempo, no ano de 2014. Mas antes de me tornar aluna eu já tinha adquirido uma peça sua (isso muito antes de eu sequer sonhar fazer aulas de escultura!).

A peça é um São Francisquinho (lindo!) de Assis. Sentadinho num toco, de calças curtas, as canelas de fora... Os cotovelos sobre os joelhos e as mãos cruzadas servindo de apoio ao rosto... Um pássaro branco pousado na perna esquerda, um outro pássaro no ombro direito... E uma carinha serena de quietude e contemplação... de Paz e Bem...

Era dezembro de 2008. As festas de fim de ano estavam muito próximas. Vi o tal Francisco na vitrine de uma galeria em Búzios (RJ) - a galeria da Flory que, à época, eu nem sonhava conhecer! Me encantei com a delicadeza daquela peça (e, claro, com a sua "novidade iconográfica", né? Uma "tara" minha... - entenda melhor aqui) e, como estávamos pertinho do Natal, não me fiz de rogada e a pedi de presente ao marido! 

Entramos na loja e compramos a peça. Eu, muito feliz da vida! Não lembro mais nada. Só lembro que a dona que nos atendeu pareceu também feliz de ver a minha alegria. E o Francisquinho da Flory veio cá pra casa embelezar e trazer encanto pros meus olhos e se juntar a outros Francisquinhos num cantinho da minha sala. 


coisicasartesanais.blogspot.com.br
São Francisco (lindo!) da Flory...

Alguns anos se passaram... Cinco a seis anos... E na virada para 2014 eu fiz uma viagem que mexeu comigo de maneira especial... Voltei pra casa com uma vontade inquieta de mexer com barro e criar... "coisas", figuras, personagens, santinhos... Era uma vontade que, embora tímida, latejava...

E lá fui eu catar na internet algo que nem sabia bem direito o quê... Aulas de cerâmica? Não. O que eu queria mesmo (isso me explicou uma ceramista com quem eu havia feito um primeiro contato) eram aulas de escultura! - e me indicou uma artista plástica sua conhecida: Flory Menezes (!)...

Mas, vixe! Como é que eu, tendo já uma peça da Flory em casa, não pensei nisso antes? Sim, porque a peça foi comprada em Búzios mas na sacola onde foi embalada estava escrito que a artista tinha ateliê também no Rio!
 

"Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"
(Mário Quintana - Da felicidade)


A Flory é uma pessoa encantadora! Além de professora zelosa e dedicada! (E querida, e risonha, alegre, gentil!)... Conduz alunos de diferentes histórias, vontades e estilos criativos, "mapeando" e trazendo à tona o que cada um tem a desenvolver para encontrar o "seu melhor" no contato com a escultura em cerâmica. Ainda por cima, é uma artista que cria peças, a meu ver, incríveis! Por reunirem elementos que as conferem um realismo estonteante e pelo toque de leveza e de "descontração" presentes nas suas composições, especialmente a partir das muitas texturas (por ela experimentadas com propriedade de mestre) que inundam suas peças de uma naturalidade ímpar! Tudo isso sem deixar de lado a delicadeza comum apenas àqueles dotados de extrema sensibilidade artística...

Flory Menezes alia, brilhantemente, técnica e sensibilidade e nos apresenta um realismo com doçura, sem "crueza", sem "rigidez". Não é incisivo, é sutil. Não expõe, insinua. Não quer te convencer de nada, simplesmente te faz crer. Porque traz movimento e leveza que se desdobram em gestos e olhares em peças riquíssimas em detalhes, mas aqueles detalhes tão profundos que fazem parecer que suas peças têm alma (e têm!). Daí, ninguém se espantaria se alguma criatura divina, um deus, passando diante de uma peça sua a quisesse soprar nas narinas, só de curiosidade, intrigado... E tampouco causaria espanto se, a partir de um gesto desses, uma peça da Flory saísse de fato caminhando...

Conheça mais sobre as obras e o trabalho da Flory, aqui!

E veja aqui! a primeira peça que fiz enquanto aluna da Flory!
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