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31 de janeiro de 2022

Vaso adaptado para orquídeas


Eu estava me perguntando: qual o sentido de fazer um post desse num blog que nasceu pra falar de artesanato? (mas que também já derivou, é bem verdade, pra contar histórias, mostrar músicas e até compartilhar receitas!!)... 

Hummm... Pensando bem, visto esse histórico, acho que tudo bem falar de plantinhas, né? ;)


Sempre amei o verde... montanha, natureza, flor, passarinho... Cresci numa casa rodeada de plantas e vendo minha mãe regá-las todas, sempre com grande prazer estampado no rosto! Naquela casa sem quintal, mas ladeada por um extenso corredor, um buraco de ralo em desuso virava um mini canteiro pra um frondoso hibisco florir; flores-de-maio de todas as cores pendiam de parapeitos e paredes, embelezando nossos outonos e comecinhos da primavera; de quando em quando, um mini abacaxi se manifestava, majestoso, por entre a folhagem rústica e arisca num vasinho sobre a mureta da varanda... Era um desbunde!

Quando "adultesci" e passei a ter minhas próprias plantinhas no meu apê, eu tive um choque de realidade. Ter plantas belas e bem cuidadas em casa não era tão simples como parecia e, muito diferente do sucesso de mamis com a "verdaiada" naquela casa onde passei a infância, eu não tinha a menor vocação para cuidar delas e me descobri uma "assassina" de plantinhas! Foram muitas tentativas frustradas, em épocas variadas da fase adulta, e muitas plantinhas "assassinadas"... 

Em 2019 (o ano em que a preguiça quase me doeu), disposta a mudar isso de uma vez por todas, eu futuquei-futuquei na internet e descobri o canal "Minhas Plantas", da Carol Costa, uma fofa. Apaixonei. Como sou mais de ter um livro por ler do que mil vídeos por assistir, comprei o livro da Carol e isso mudou a minha relação com a jardinagem amadora. E mudou também o destino das plantinhas aqui de casa (que passaram a sobreviver aos meus cuidados!) e eu pude, finalmente, fazer as pazes com a pá, com a terra, com as minhocas... (Bem... com as minhocas, nem tanto).

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
O livro que mudou a vida das minhas plantinhas! ;)

Entendi que eu cometia um erro gravíssimo na base do processo, negligenciando um princípio muito importante: devemos tentar simular o ambiente natural onde crescem as plantinhas que queremos ter conosco, para poder oferecê-las a melhor adaptação possível! Pra começo de conversa: na natureza não existem vasos! É tão óbvio, né? Mas a gente não pensa muito nisso ou não dá (ainda) a importância devida... Plantas são seres vivos (♥) e, assim sendo, têm suas preferências de clima, de solo, de umidade, etc... que devem ser observadas e respeitadas. Fechar os olhos pra isso é como manter um cachorro dentro de um aquário e alimentá-lo com alpiste - e querer que ele fique saudável e pimpão...

Desde que passamos a reproduzir e a "domesticar" plantinhas ao nosso gosto, devemos também estar dispostos a compensar o fato de elas não estarem mais no seu ambiente natural (e sim dentro de um vaso na nossa varanda), e essa compensação só é possível conhecendo as espécies e suas "preferências", pra podermos oferecer as condições que elas precisam para se desenvolver tão bem (ou quase) quanto na Natureza. E isso passa por compreender e aceitar que nem todas gostarão da nossa varanda...

Com essa lição aprendida, teve uma coisa que a Carol falou, num dos seus vídeos sobre orquídeas, que fez estalar um "plim" na minha cabeça! Carol nos lembrou que, na natureza, as orquídeas Phalaenopsis (essa moça das fotos - a mais comum e mais indicada para iniciantes) ficam praticamente de ponta-cabeça, agarradas às árvores - e que isso, aliás, é prova de quão sábia é a Natureza, porque, nessa posição, quando chove, a água não se acumula ali naquele "nozinho" de onde nascem as folhas novas (evitando encharcamento/apodrecimento e/ou surgimento de doenças na planta).

Cuidar para não deixar empoçar água ali é uma das primeiras coisas que nós, iniciantes, aprendemos no trato com as Phalaenopsis. E por que a gente precisa aprender isso?? Ora... porque as orquídeas que encontramos para venda são colocadas "de pé" nos vasos. Essa posição, invertida do que seria o natural para a plantinha, favorece que a água fique acumulada ali e causa ainda outro efeito indesejável: sua haste floral nasce pro lado! E é por isso que elas também são vendidas com guias fincadas no substrato: para prender a haste floral para cima. Ou seja: a bichinha é colocada numa posição invertida da sua posição natural e ainda lhe torcemos a haste para cima. É como se quiséssemos "plantar bananeira" sem deixar que nossas madeixas pendam para baixo com a posição inusitada... Difícil, né?

Pensando nisso, eu decidi dar uma aliviada pra minha "Fafá" (apelido carinhoso para Phalaenopsis - e uma saída foneticamente facilitadora pras nossas vidas) e arrumar um vaso mais adequado pra ela, que andava triiiiste e macambúzia, e que não floria havia tanto tempo, mas tanto tempo que eu nem me lembrava mais!


Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Como na Natureza: com o vaso adaptado, a planta fica em posição mais próxima 
ao que é natural à espécie, evitando que se acumule água no miolinho das folhas, 
e sua haste floral cresce naturalmente para cima, sem necessidade de guia.

Para adaptar o vaso, fiz um corte usando faquinha de serra e estilete. Troquei o substrato da orquídea (como de costume) e a encaixei no corte do vaso com a maior parte das raízes pra dentro e as folhas pra fora do buraco, preenchendo o restante com mais substrato para que ficasse bem firme (fotos abaixo).

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Adaptação e improviso: com uma faquinha de serra e estilete, fiz um corte no vaso para acomodar minha orquídea do modo mais parecido com a posição que ela fica da natureza. Simplicidade e puro amor ♥ ♥ ♥


Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Deixei esfagno de molho em água com bokashi* e depois espremi bastante pra retirar bem o excesso de líquido. *bokashi é uma espécie de "combo" de nutrientes, um "polivitamínico" para plantas. Tem em pó ou líquido e é bem prático de usar.

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Daí vem o "abraço". A gente acomoda um tufo de esfagno "vitaminado" na base das raízes e envolve esse tufo
com algumas raízes e depois envolve essas raízes com mais esfagno. Deixe algumas raízes soltas.

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Forre o fundo do vaso com manta e um pouco de substrato para orquídeas e encaixe sua orquídea passando o "pescoço" pela abertura feita no vaso, deixando o "abraço" de esfagno e raízes para dentro e as folhas para fora do vaso. Algumas raízes vão querer ficar para fora, tomando ar: deixe que fiquem ;) Complete o vaso com mais substrato e aperte com cuidado.
Obs.: com o esfagno, proteja a planta do contato direto com o corte do vaso, para evitar machucá-la! ;)

Pra que não ficasse muito frouxo o "arranjo" (porque orquídeas precisam se agarrar e sentir que estão bem firmes para conseguirem se desenvolver melhor), eu envolvi a boca do vaso com um arame, dei voltas e apertei bem, juntando mais as bordas do vaso e, assim, fechando o corte na parte de cima, formando tipo um triângulo. Cuide para que o corte feito no vaso não tenha contato direto com a planta usando mais esfagno ali, evitando assim eventuais machucados ;) 

Com o próprio arame enroscado, eu fiz o ganchinho para prender o vaso na parede. Colei um toquinho de madeira no verso do vaso, para ficar melhor acomodado junto à parede e... pronto! Uma solução simples, caseira e no improviso, pra deixar Fafá mais pimpona e feliz!

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Depois de completar o vaso com  mais substrato para orquídeas, deixando tudo bem apertadinho, ajustei a borda do vaso enroscando arame em volta. Com ajuda de um alicate de ponta redonda, fiz um arremate do próprio arame para formar um ganchinho de pendurar. Por fim, colei um toquinho de madeira para o vaso ficar melhor acomodado na parede.

Em poucas semanas, minha orquídea sofrida e macambúzia mudou de aspecto. De triste que estava, ficou vivaz e muito vistosa! Lançou novas raízes, uma, duas, três! Lançou novas folhinhas, as raízes cresceram que foi uma beleza, até encontrarem a parede - no caso, meu painel de madeira - e se agarraram ali muito bem! Não havia dúvida: Fafá estava se sentindo em casa! rs... (E eu estava radiante de feliz com isso!)

Até que um dia Fafá lançou mais um biquinho, que parecia mais uma raiz, só que meio diferente... Fiquei na dúvida se seria uma haste floral e precisei de alguns dias a mais para me certificar que sim! Era uma haste floral!!! ♥ ♥ ♥ =)

Orquídeas são assim... Depois de caírem as flores, a haste que permanece viva produzirá novas floradas numa próxima temporada e depois de mais essa florada ou mais outra, a haste costuma morrer. Nessa hora tiramos a haste. É natural. Sendo bem cuidada, uma nova haste rebrotará e você terá novas florações. Era essa parte do processo que eu nunca cheguei a ver, de uma nova haste rebrotar, porque minhas orquídeas morriam antes disso! Então eu fiquei muito, muuuuito feliz e radiante quando vi que tinha nova haste e mais ainda quando vi os primeiros botõezinhos e quando, finamente, eles se abriram! ♥

As fotos de Fafá florida são dessa época, de quando tive a ideia de adaptar um vaso, no ano passado. Mas as fotos da troca do substrato são de agora, porque na época que inventei de cortar o vaso, eu não imaginava que ia querer compartilhar essa experiência aqui... Depois que ela floriu, suas flores caíram e eu entrei em obra aqui em casa. No vuco-vuco, deixei de cuidar das minhas plantinhas e Fafá voltou a sofrer, precisei desgarrá-la do painel onde ela tinha de segurado tão feliz e ela magoou, tadinha - acho que por isso sua haste secou depois da floração. Daí, agora, eu refiz todo o processo de troca de substrato pra ela ficar pimpona outra vez e aproveitei pra fazer essas fotos pra poder compartilhar aqui.

Se você tem Phalaenopsis em casa, libera ela de ficar "plantando bananeira com os cabelos presos" pro resto da vida, rs... Tira ela desses vasos convencionais (que são necessários, senão elas se machucariam durante todo o processo de transporte e comercialização) e prepara um vasinho desses pra ela! É simples, fácil, e você estará entregando mais "qualidade de vida" pra sua Fafá, que vai ficar feliz da vida e pimpona, e agradecer com mais floradas!

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Ói ela aí! Fafá, com substrato recém-trocado, livre, leve e liberada de
"plantar bananeira", pronta pra desenvolver uma nova haste floral
e brindar a vida (e alegrar nossos olhos) com novas flores! ♥

* * *


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22 de agosto de 2021

O causo do primo Justino (por Moreno Overá)


Mês de agosto é sempre a mesma coisa, cês já sabem, né? Eu até já comentei isso por aqui e aqui também... É que Sacis andam à solta! É preciso estar muito atento! E não é o caso só de saci, não, porque outras criaturas se fazem muito notar nesse período...

Dada a ocasião, gostaria de compartilhar aqui esse causo pra lá de venturoso, contado no gogó e ponteado na viola, com braveza e valentia, por Moreno Overá!

Pra mor de celebrar o que é nosso, pra se alembrar do que não deve ser esquecido e pra ispaiar um bocadin de faceirice e alegria...




Moreno Overá é músico, violeiro, cantautor e contador de causos, celebrador e difusor da cultura popular, que vive em São Luis do Paraitinga - SP. 

Visite o canal do Moreno Overá e conheça mais do seu trabalho, aqui:

Moreno Overá - Viola, Causo e Prosa


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7 de dezembro de 2019

Uma história sobre os pinheiros de Natal e PAP de pinheirinhos para presentear


Tenho boas lembranças dos Natais da minha infância... Quase tão vivo na memória quanto a belíssima, exuberante e luminosa árvore de Natal rodeada de presentes e a mesa posta (cuidadosa e nababescamente) com as mais perfumosas e vistosas guloseimas e iguarias, permanece muito forte também a memória sensorial e corpórea disso tudo e, nesse aspecto, eu quase posso sentir outra vez a emoção, a euforia e a ansiedade que me arrebatavam naqueles dias.

Por conta mesmo de tanta euforia e daquela ansiedade toda, eu ficava muito contrariada que papai "inventasse moda" de, antes de seguirmos para a "festa", assistirmos à missa do galo que, no nosso bairro, começava só às 20h... E eu, que desde a hora do almoço já ansiava por chegar logo a casa da vovó (ou da titia) e me juntar com meus primos, ganhar beijos e elogios dos tios e tias todos (sempre corujas), me embriagar com a beleza da casa ricamente decorada e aquelas luzinhas todas piscando e com o zum-zum alegre de tanta gente se encontrando e festejando... Bem, eu teria de aguardar mais.

E foi numa dessas missas (compulsórias) do galo que eu, contrariada e impaciente, me enterneci ao ouvir a história que nos foi contada pelo Padre que então a celebrava... E esta é a história que eu, hoje, venho partilhar com vocês: a história do Pinheiro de Natal!


PAP Pinheirinhos de arame e a história do Pinheiro de Natal - Coisicas Artesanais - Simone dos Santos
Ao final deste post, veja o vídeo onde mostro como fazer esses pinheirinhos de arame ;)














Pois bem... Contam que quando Jesus nasceu foi aquela coisa, né? Todo mundo queria presentear o menino-Deus e render-Lhe as mais sinceras homenagens. Teve gente que veio dali mesmo, da redondeza, e gente que veio de longe... Até os Reis Magos, que chegaram de muito muito longe mesmo, guiados pela Estrela Guia... Mas essas histórias todo mundo conhece bem...

O que pouca gente se lembra de contar é que também a bicharada e toda a natureza em volta quiseram participar, e que foi um tal de galo cantar e bezerro mugir, de ovelha balir e burrico a zurrar! Pois sim, foi mesmo assim que foi.

E contam que, ali, bem pertinho, coladinho no estábulo, havia 3 árvores, uma Palmeira, uma Oliveira e um Pinheiro, que também ofertaram suas prendas. Dona Palmeira logo se adiantou em oferecer, orgulhosa, as suas folhas em leque, para abanar o Menino. Já a Oliveira, sabedora da importância daquele momento, ofereceu seus frutos, de onde se podia extrair bom óleo para massagear e acalmar o bebê. O Pinheiro, por sua vez, feliz em poder dar algo de si, ofereceu suas pinhas para o Menino brincar.

Nessa hora as outras árvores retrucaram:

- Pinhas?? Você vai ofertar suas pinhas?? Não vê que assim poderá machucar o bebê? - Falou, ríspida, a Palmeira.

- É, Pinheirinho, suas pinhas não são adequadas pra um bebê e suas folhas são duras e pontiagudas, espetam... Você não tem nada o que ofertar ao Menino nesse momento. - Falou a Oliveira, mais ponderada.

Mas Dona Palmeira estava indócil e arrematou:

- Nem sombra esse Pinheiro dá direito!

O Pinheiro, ouvindo tudo aquilo, se encheu de tristeza... De fato, ele reconhecia, as demais árvores tinham razão: ele não tinha nada de bom pra ofertar ao Menino-Deus...  

A tristeza do Pinheiro foi tanta, mais tanta, que Deus, em sua infinita bondade, se compadeceu do pobrezinho e pediu que algumas estrelas que brilhavam no céu naquela noite descessem até ele para confortá-lo. E foi então que aconteceu a coisa mais bela! As estrelinhas vinham caindo do céu até tocarem o Pinheiro e ele foi ficando todo iluminado de estrelinhas multicor, tão radiante! Uma beleza que só Deus mesmo pra fazer uma coisa assim!

Então, dizem que naquele momento exato, quando o Pinheiro estava todo reluzente com as estrelas do Céu, isso chamou a atenção do Menino recém-chegado a este mundo e que seus olhinhos se encantaram de ver tanta luzinha linda a brilhar e que, nessa mesma hora, olhando pro Pinheiro todo iluminado, o pequeno Jesus, pela primeira vez, sorriu!

Nem é preciso contar como se sentiu aquele Pinheiro ao receber tal sorriso, né?? Acho que todos podem imaginar...

E, ao que parece, foi daí que surgiu o hábito de enfeitar pinheiros com luzes que piscam no Natal: para  nos lembrarmos dessa história e recriarmos, simbolicamente, o "mimo" que fez sorrir o Menino-Deus ;)

Que possamos, também nós, sorrir diante dos grandes ou pequenos milagres de beleza e de luz que se repetem, com a Graça de Deus, ao longo de nossas vidas! :)

Um Feliz Natal a todos! 



Clique no vídeo e aprenda a fazer seu Pinheirinho!

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4 de outubro de 2018

A tristeza do imbuzeiro - uma "ciranda-canção"


Hoje não tem artesanato, mas uma canção...

Acho que preciso me justificar aqui... Afinal, esse blog foi criado para falar de artesanato e de coisas/pessoas a ele relacionadas...

Acontece que essa coisa de escrever em blog acaba por adquirir certo caráter de "meu diário" e, muito embora eu evite fazer isso por aqui, é inevitável que vez ou outra eu acabe mostrando mais "a cara" (e o que se passa no coração)...

E, então, acontece que Música é algo que "se passa" com a maior importância no meu coração! E é, provavelmente, o mais essencial alimento da minha alma... Meu ar puro, meu bálsamo, meu aconchego... E, assim, representando tudo isso para mim, ela é também muito maior e bem mais forte do que eu e, por vezes, me inspira "devaneios" e me move (contra minha própria razão) a fazer coisas meio nonsense - como, por exemplo, colocar uma ou outra música minha (mesmo que sem um mote - como é o caso desta de hoje) num blog onde me proponho a falar sobre artesanato...

Pronto. Acho que já está tudo devidamente explicado, né? ;)



Minha "ciranda-canção" e seu anseio de ser


A tristeza do imbuzeiro é uma música que "compus" (melhor seria dizer "intuí") no ano de 2014. Uma ciranda. Minha "ciranda-canção"... Ficou "guardada" no meu aparelhinho de mp3 com a letra rabiscada num caderninho cavoucado entre livros na estante... No ano passado marido criou um arranjo de violão todo lindo, todo abraço, todo aconchego para ela e, então, passamos a mostrá-la para alguns amigos e familiares.... E foi daí que veio a ideia (e a cobrança) de gravá-la (ainda que amadoramente) para poder publicá-la e deixar que tomasse vida, que passasse a existir...

Sim, porque música estocada em aparelhinho mp3 ou celular, música naquela pilha de cds empoeirados na estante, música anotada em partitura sobre o piano na sala da tia-avó que deixou de tocar devido à artrose... Nada disso é música, apenas registro, esquecimento ou privação... Música só é música naquele instante "mágico" em que soa, nota por nota, e nos toca, nos alcança e se faz dentro de nós... Música só é música quando, soando, nos invade pelos ouvidos, pela pele, pelos pés... coração adentro (ou coração afora) e se instala e acontece dentro de mim e de você, que a ouvimos, a sentimos, a reverberamos, somos por ela modificados e, em troca, a atribuímos sentidos, importâncias, memórias, esperanças... Apenas nessa hora a música existe.

Por isso eu vos ofereço esta que, muito embora minha, de autoria, não se quer "minha", mas de todos, de qualquer um, de tantos quanto possível... para poder tomar vida em cada momento que alguém, qualquer um, clique para ouvi-la e, assim, acontecer por aí, nuns ouvidos e corações desconhecidos, e ganhar novos sentidos e realizar-se e fazer-se plena em existência e, finalmente, ser música e, mais uma vez e tantas outras mais, poder tornar sempre a SER!

Que ela, então, assim SEJA!  ♥ 


Sobre devaneios


Devaneio 1: ela (A tristeza do imbuzeiro) não pôde esperar que eu, num esforço sincero de realizar um desejo guardado (entenda-se: devaneio tresloucado), conseguisse um contato para ofertá-la a Mônica Salmaso ou a Ceumar que, certamente, dariam brilho e beleza pra sua simplicidade. (Eu disse que era devaneio, né?). Impaciente, a pulular (o que é justificável depois de tantos anos a pobrezinha "trancada", ansiando vida), quis sair à rua logo, simplinha mesmo, como estava: descalça e de cara limpa, sem nem um batonzinho, sem nem um brinquinho na orelha... No anseio urgente de ganhar vida e animada pelo violão todo-amor que meu marido criou pra ela, me impeliu a fazer seu registro sonoro e a cantá-la - eu mesma, com os poucos recursos vocais de que, amadoramente, posso hoje dispor... Obedeci humildemente. E guardo a expectativa de que meus amigos e meus leitores (por ora, ouvintes), sabendo que somos (cantora e violonista) amadores, saberão também compreender e relevar nossas quase discretas falhas neste (urgente!) áudio, motivo pelo qual já vos somos muito gratos! ;)

Devaneio 2: antes mesmo de gravar A tristeza do imbuzeiro em estúdio, mas já em vias disso (o que significa dizer que naqueles dias eu dormia e acordava pensando nela), num certo sábado eu acordei com uma ideia bem maluca na cabeça (isso não é incomum, rs)... Maluca, mas tão clara e persistente (e tão fofa!) que eu não pude outra coisa senão me render (e me apaixonar perdidamente)... Naquele sábado recém-amanhecido, um desenho animado em preto e branco passava inteirinho na minha cabeça mostrando a história do imbuzeiro que entristeceu de saudades de uma rolinha que avoou pra longe... Tive certeza, naquela hora, de que a minha "ciranda-canção" deveria ser publicada com um filminho/desenho, ainda que simplão e caseiro... Tipo um clipe! :) Pedi ajuda ao meu cunhado, um cara que adora desenhar e faz desenhos lindos! Ele topou, feliz e engajado, e o "devaneio" daquela manhã de sábado, que me deixou com o coração palpitando pelos dias seguintes e outros mais, se tornou um filminho caseiro, fofo e real! ;)


Clique abaixo e conheça a música e o desenho "A tristeza do imbuzeiro" ;)




A tristeza do imbuzeiro
(Simone dos Santos)

Lá do alto do imbuzeiro rolinha avoou,
fez lembrar o dia quando partiu meu amor.
Imbuzeiro magoou de saudade de você, rolinha,
desde então o pobrezinho perdeu seu esplendor...

Lá do alto do imbuzeiro rolinha avoou,
fez lembrar o dia quando partiu meu amor.
Imbuzeiro magoou de saudade de você, rolinha,
adispois daquele dia nunca mais se abriu em flor.

Voa, rolinha! Torna voar! 
Longe de casa, tanto céu pra festejar...
Voa, mas volta pro teu amor,
pro meu imbuzeiro tornar se abrir em flor...


Minha sincera gratidão:

Aos meus pais e minha irmã, pela mais bela torcida - e a mais querida!

Aos amigos (Gui, Catita, Gíio, Lú, Myrtinha, Búbs) que (cada um ao seu modo), quando ouviram "A tristeza do imbuzeiro", me fizeram crer que, sim, eu deveria gravá-la! - Antes mesmo da Mônica Salmaso ou da Ceumar... ;)

Ao Brenno e ao Luiz Filipe, pela paciência e dedicação em estúdio.

Ao Marco Perez (o cunhado mais maneiro que minha irmã poderia me ter arranjado, rs) que, com tanta entrega e paixão, paciência, generosidade e carinho, fez os desenhos que tornaram realidade um dos meus (muitos) devaneios ;)

Ao Dagô, pela parceria que transcende ao arranjo desta canção...

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7 de outubro de 2017

História ilustrada - Devoção Congadeira e a história de Nossa Senhora do Rosário entre as Irmandades do Rosário no Brasil


Artista convidado: Alexandre Rosalino



Hoje, 7 de outubro, é dia de Nossa Senhora do Rosário. Considerada a Padroeira dos negros, Ela é festejada por Nações de maracatu e Irmandades congadeiras espalhadas por diversos cantos do Brasil... Por isso, hoje eu peço licença para (re)contar aqui uma história que ouvi muitas vezes, de variadas fontes, em diferentes contextos e com nuances diversas, contada por homens e mulheres d'Ela devotos.

Evitando fugir muito ao tema principal desse blog (que é artesanato), eu convidei, para ilustrar essa história, um artista que traz consigo forte vivência entre aqueles devotos de Nossa Senhora do Rosário (ele próprio, aliás, um devoto), fato que marca a temática de parte de seus quadros, inspirados nas festas, na musicalidade e na fé de homens e mulheres herdeiros e mantenedores dessa tradição que ele conhece tão bem. Ao ser convidado a participar deste post, Alexandre Rosalino, muito gentil e generosamente, agarrou a "missão" de criar um quadro especialmente para esta ocasião! ♥ ♥ ♥ Eita, que assim eu fico besta! Quanta honra♥ /\ ♥ 

Pois bem... vamos à história - que não é minha, mas daqueles homens e mulheres que a celebram todos os anos... Ela não tem local preciso nem data exata - como bem devem ser, aliás, as histórias que servem ao  arcabouço do Coletivo, onde podemos caber todos nós...

Dizem que o fato se passou muitos e muitos anos atrás... 


Num certo dia, daqueles tempos ainda de escravidão, num lugar onde hoje não seria possível precisar, o que se sabe de certo mesmo é que Nossa Senhora do Rosário apareceu no mar! E que, rapidamente, o dono daquelas terras mandou seus homens de confiança resgatarem a Santa. Aos negros, seus escravos, ordenou a feitura de uma capela para abrigá-la. Capela erguida, a Santa resgatada foi então posta no altar e daí foi um tal de oração prum lado, ladainha pro outro, bênção de padre amigo da nobre família e tudo o mais de pompa que a ocasião merecia!

(Naqueles tempos, a gente sabe, os negros não podiam entrar nas igrejas - mesmo tendo sido erguidas por eles - e, portanto, ficaram de fora de toda a celebração...)

Ocorre que, misteriosamente, mesmo com capela erguida, rezas e bênçãos oferecidas, no dia seguinte a Santa tornou a aparecer no mar. E lá se foram outra vez os homens de confiança do sinhô buscá-la para colocá-la de volta em seu lugar, na capela. Mas o fato misterioso tornava a suceder nos dias seguintes... Quantas vezes fosse retirada do mar e colocada no altar da capela, tantas vezes a Santa tornava a aparecer no mar...

Após inúmeras tentativas frustradas, foi a vez de os negros, eles próprios, tentarem resgatar a Santa de uma vez por todas. Mas eles não entraram no mar para pegá-la. Não. Eles ficaram foi na beira da praia, de onde era possível avistá-la entre as vagas. Ali mesmo se dividiram em 2 ou 3 grupos com seus tambores feitos de pau ocado e folhas de bananeira (ou de couro de bicho...) e, ali mesmo, se puseram a cantar, a dançar e a tocar em reverência à Nossa Senhora do Rosário, que estava no mar (de onde, aliás, também aqueles homens e mulheres - ou seus antepassados - vieram chegar em terras de cá).

Um grupo, formado pelos mais jovens, "puxava" cantigas de grande vigor e tinha movimentação ligeira. Outro grupo, formado pelos mais velhos, vinha atrás, mais devagar, e entoava cânticos mais solenes, de notas longas e ritmo mais lento... Cada grupo cantava ao seu modo, com ritmos diferentes e todos ao mesmo tempo!

Ao passo que cantavam e tocavam, a Santa vinha se aproximando da praia, mais e mais, como que trazida pelas ondas ou... como que embalada magicamente pela cadência daquelas músicas e pela força daqueles homens e mulheres que cantavam para Ela!

Quando estava já bem perto da praia, Nossa Senhora pôde ver nos olhos daqueles homens e mulheres (mais que as feridas e as marcas que traziam em seus corpos) a dor que carregavam na alma, fruto da escravidão. E dizem que foi então que Ela se sentou sobre um dos tambores que os negros tocavam (aquele, sim, o SEU LUGAR - entre aqueles que cantavam em Sua devoção!) e que ali, diante deles e entre eles, foi que, compadecida de tanto sofrimento, Ela chorou...

Dizem que no lugar onde Ela chorou, bem onde o seu pranto tocou o chão, nasceu um pé de Lágrima de Nossa Senhora, de onde os herdeiros dessa tradição extraem as contas que usam, até os dias de hoje, para fazer o seu Rosário, que lhes fora dado por Ela.

O tambor onde Ela se sentou, chamado candombe (aliás, um naipe inteiro de tambores), é hoje guardado como relíquia em diversas Irmandades, não saindo nas ruas em cortejo, por se tratar de tambor sagrado. Em seu lugar saem às ruas as caixas, os patangomes, as gungas..., mas o candombe é usado até os dias de hoje para firmar bandeiras, quando se erguem os mastros nas festas que ocorrem em diversas comunidades congadeiras do nosso país.

Os cortejos saem ainda em dois grupos, hoje comumente chamados de ternos ou guardas. Como na antiga história, as duas guardas saem juntas. A mais jovem e de cantigas mais alegres e ligeiras, ficou conhecida como guarda (ou terno) de congo. Já a de toadas mais lentas e solenes, e formada pelos mais velhos, guarda (ou terno) de moçambique. Em algumas regiões, sabidamente no norte de Minas Gerais, esses grupos estão representados como Catopês e a eles se juntam outros grupos ainda... Marujadas, Caboclinhos e Caixas de Assobio cantam, tocam, dançam e saem em cortejo para louvar Nossa Senhora do Rosário!

Em seus ritos de devoção, esses grupos passaram a contemplar também São BeneditoSanta Efigênia (dentre tantos outros santos católicos) e relembram em suas cantigas as dores dos seus antepassados (que viveram os horrores da escravidão) e temas como a libertação dos escravos, por vezes cantando ainda para Oxalá, para Iemanjá, para Xangô etc, mesclando e amalgamando culturas de matrizes diversas num calendário festivo que (dependendo da Irmandade) tem início entre agosto e outubro e se estende até maio do ano seguinte.

Nas diversas regiões onde é festejado o Reinado de Nossa Senhora (também popularmente conhecido como "congado" ou "congada"), cada Irmandade, cada capitão e capitã, cada bandeireira e caixeiro, cada criança, devoto e irmão, todos contam aquela mesma história de Nossa Senhora resgatada do mar - obviamente dando nomes e características próprios da sua região, da sua cultura, do seu histórico social e focando neste ou naquele detalhe, de acordo com as histórias que ouviram de seus antepassados e que vêm sendo recontadas e retransmitidas de geração a geração...

No fundo, guardadas as particularidades inerentes a cada Irmandade (que revelam variáveis sociais, regionais etc...) a história é sempre a mesma e une a todos enquanto Filhos do Rosário e descendentes de uma mesma tradição.

Viva Nossa Senhora do Rosário!

Viva todo o Povo do Rosário! 

Vivam as Irmandades Congadeiras de todo o Brasil!

E vivam as histórias, os costumes e a fé, quando são capazes de nos unir de novo como IRMÃOS que verdadeiramente somos!

Coisicas Artesanais - Alexandre Rosalino
Sem título - óleo sobre tela - Alexandre Rosalino

"Lá no alto mar, êêê... tem uma luz que brilha
Lá no alto mar, êêê... tem uma luz que brilha
É o reflexo sagrado 
que alumeia o Rosário 
de Maria
É o reflexo sagrado 
que alumeia o Rosário 
de Maria"
(canto tradicional das guardas de moçambique em Minas Gerais)

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Quero agradecer enormemente e do fundo do meu coração ao artista plástico Alexandre Rosalino, que se prontificou a pintar tão belo quadro (e carregado de memórias, de cores, fantasia, sentimento...) especialmente para este post! Quando o contactei, há alguns meses, com uma proposta maluca (sim, porque eu fiz a "encomenda" avisando que não iria comprá-la (!), que era tão somente para publicar aqui no Coisicas), ele, generosíssimo, em vez de me achar uma louca-varrida ou me mandar catar coquinho na ladeira, se envolveu, se entregou e decidiu participar!

Rosalino, querido, eu nem encontro palavras para demonstrar o tamanho da minha gratidão... Me sinto muito feliz e honradíssima com tua participação tão especial! Muito agradecida pela confiança e pela generosidade. Gradicidimáis da conta-! ♥ ♥ ♥

Quero agradecer também, e acima de tudo, à cada irmão e irmã da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, pela acolhida generosa e carinhosa de sempre e entre os quais eu pude ver e sentir essa história pelo lado de dentro e vivenciar um pouco dos seus desdobramentos e seus mistérios, o que mudou a pessoa que eu sou e pelo quê me sinto profunda e eternamente agradecida! /\

Aos leitores, aviso que pretendo apresentar Alexandre Rosalino "formalmente" aqui no Coisicas... Contar como o encontrei, falar um pouco da sua obra, do seu envolvimento com o congado mineiro, enfim... trazê-lo pruma boa prosa/entrevista para vocês poderem conhecer um cadiquinho mais esse artista tão especial!

Por ora, deixo vocês curiosos e na expectativa, apenas com o gostinho bom dessa "provinha" belíssima e generosa com que ele nos presenteou...

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4 de outubro de 2016

Feliz dia de Francisco!


Hoje não tem artesanato, só uma breve reflexão (para além das crenças ou descrenças de cada um)...

Que nós possamos reconhecer que há momentos em que "o lugar" onde mais precisamos levar o amor, a paz, a união, o perdão, a luz, a tolerância, o bem-querer, a boa-vontade... é para dentro de nós mesmos...

Que a simplicidade de Francisco esteja conosco.
Paz e Bem!


clique abaixo e escute a Oração da Paz nesta versão fofa do grupo Nataraja:



Oração da Paz
Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz!
Onde houver ódio, que eu leve o Amor
onde houver ofensa, que eu leve o Perdão
onde houver discórdia, que eu leve a União
onde houver dúvida, que eu leve a Fé
onde houver erro, que eu leve a Verdade
onde houver desespero, que eu leve a Esperança
onde houver tristeza, que eu leve a Alegria
onde houver trevas, que eu leve a Luz...
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado,
compreender que ser compreendido,
amar que ser amado,
pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se vive para a Vida Eterna.



Você sabia?

A Oração pela Paz, popularmente conhecida como Oração de São Francisco, é uma oração cujo autor se desconhece. Ela teria surgido no século XIX, sendo mais amplamente propagada no século seguinte. Leonardo Boff conta que um franciscano que visitava a Ordem Terceira Secular de Reims, na França, mandou imprimir um cartão contendo, de um lado, a figura de São Francisco e, do outro, a Oração pela Paz com a indicação da fonte: Souvenir Normand (ou, "recordação da Normandia", região onde inicialmente teria surgido a oração). No final, uma pequena frase dizia: “essa oração resume os ideais franciscanos e, ao mesmo tempo, representa uma resposta às urgências de nosso tempo” (eram tempos de guerra - a 1ª grande guerra assolava o mundo). Possivelmente pela associação indicada no cartão, a oração começou a ser difundida como se fosse de autoria do próprio santo. (fonte: wikipedia e franciscanos.org).


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