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28 de março de 2016

Felipe Callipo - santeiro barroco em pleno século 21


Conheci Felipe Callipo e seu belíssimo trabalho no pavilhão de artesanato do 'festival' de que tanto tenho falado por aqui: o Revelando São Paulo. No Revelando, Felipe representa sua cidade, Pindamonhangaba, expondo suas peças de grande valor artístico.

Felipe é santeiro à moda antiga: faz santos barrocos com toda a expressividade e paixão dignas duma peça do autêntico Barroco - estilo artístico impulsionado pela Igreja (a católica, única dominante no mundo ocidental de outrora) em "resposta" à Reforma Protestante, quando valores e conceitos que passavam a ser condenados e abandonados por esta (como o luxo nos templos ou a legitimidade da "santidade" dos santos, por exemplo) foram retomados com força total e ainda maior calor "glorificante", graças à linguagem barroca, cheia de apelos plásticos sensoriais de que se valeu a Igreja para causar maior comoção em suas "ovelhas" e "capturá-las" num sentimento de "fidelidade" e "dever cristão".

O mais interessante disso tudo, a meu ver, é que essa linguagem barroca (sob o aspecto da plasticidade) adquiriu, no Brasil, caminhos e saídas "sinuosos" (como a própria estética Barroca, aliás), de um modo todo especial, tornando-se (ouso dizer - em coro com outros que já o disseram antes) a manifestação artística onde, pela primeira vez, pudemos passar a apreciar traços, aspectos e soluções nossos, em ruptura com moldes e padrões estéticos que vinham (como sempre, então) de Europa. O Barroco, no Brasil, teve um aspecto ímpar. Aqui ele ganhou nuances mestiças, a nossa "cara" e o nosso "jeitinho". 

Desde as feições "sem igual" dos personagens de Antônio Francisco Lisboa (o "Aleijadinho"), extremadamente angulosas e dramáticaspassando pelo "improviso" das colunas de madeira com pintura marmorizada (na falta da pedra valorosa e autêntica) e das singelas e pueris "Paulistinhas" (como ficaram conhecidas algumas peças, produzidas sobretudo no Vale do Paraíba, que traduziam o desejo das camadas mais pobres da população de também poderem manifestar e viver a sua fé dentro de suas casas); até a "ousadia" de se retratarem Madonas e anjos de 'traços mulatos' em pinturas no interior de algumas igrejas - como o fizeram Manoel da Costa Ataíde, em Minas Gerais, e Padre Jesuíno do Monte Carmelo, em São Paulo... Por tudo isso o Barroco, aqui, teve aspectos reveladores de uma identidade brasileira - ainda em formação.

Sobre um dos 'anjos mulatos' do Padre Jesuíno do Monte Carmelo há uma história (no mínimo, gracejosa) que eu não posso deixar de replicar aqui. Mário de Andrade a publicou. Diz que, ao ser questionado por um seu superior por que razão um dos anjinhos que pintava no teto da igreja estava "saindo tão escuro", Padre Jesuíno teria respondido que "faltou tinta, senhor Lourenço, faltou tinta!" ...

Podemos dizer que o Barroco se manteve fértil no Brasil lá pelos idos de milessetecentos, mileoitocentos (e tataravó mocinha), mas é certo que os aspectos da sua produção artística permanecem influenciando o fazer criativo de nossos artistas e artesãos até os dias de hoje, de modo consciente em alguns casos ou, em outros, entranhado nas nossas reminiscências subjetivas - aquelas que carregamos e expressamos sem o saber, sem que nos apercebamos delas ou pensemos a respeito.

Felipe Callipo é moço novo. Deve ter seus trinta e tantos anos (37, ele me confirmou). E se dedica, dentre outras coisas, a criar santos barrocos. E o faz de modo incontestável... e placidamente! Porque o Felipe cria com o "pé nas costas" e de "olhos vendados" (afora a maestria!) peças que referenciam (e reverenciam!) a produção artística do período barroco no Brasil. Formas sinuosas, volumes e policromias se revelam em expressões cheias de sentimento, panejamentos exuberantes e figuras corpulentas, com barriguinhas salientes ou bochechas gorduchas em rostos angulosos de nariz caprichosamente afilado... Felipe Callipo lança mão dos padrões estéticos, dos conceitos e da expressividade típicos do nosso Barroco mais rico, criando Anjos, Santos e Nossas Senhoras que facilmente poderiam ocupar altares nas igrejas históricas do nosso país sem causar estranheza alguma, dando-nos a clara impressão de que sempre estiveram ali!


Coisicas Artesanais - Felipe Callipo e o Barroco no século 21
Lindíssima e arrebatadora Conceição de Felipe Callipo! - Foto: Simone dos Santos

Felipe Callipo cria peças de uma beleza barroca que eu diria arrebatadora! É impossível não ficar imantado diante de uma obra sua - mesmo que você nunca tenha se interessado pelo barroco! O seu traço, afinal, para além dos conceitos estéticos classificatórios deste ou daquele estilo, é de uma força e de uma expressividade comoventes! Te tocam, te seduzem, te tomam, te inspiram... Te fazem viajar no espaço e no tempo... 

Coisicas Artesanais - Felipe Callipo
Padroeira de "Pinda" - Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Felipe Callipo.
(Poderia estar num templo barroco do interior do país, não?) 
 Foto: Simone dos Santos

Apesar de tão novo, o Felipe é muito consciente da sua arte, é um estudioso. E artista carismático. Das vezes que o encontro no Revelando, o Felipe sempre me instiga a estudar mais, a conhecer mais. Fala de barroco e, sobretudo, do barroco paulista (pouco (re)conhecido no Brasil), fala de exposições imperdíveis, mostra fotos, conta sobre livros de arte recém-adquiridos... No período em que eu fazia aulas de escultura, o Felipe, sabendo disso e ouvindo o relato das minhas dificuldades, fazia "narizes" e outras partes de corpo para me mostrar como é fácil (!) - infelizmente, nunca pude concordar com ele... E, obviamente, ele também fala de outros assuntos... como, por exemplo, futebol (com meu marido. Nessas horas eu fico "boiando" e aproveito para fazer fotos das suas obras expostas...). É um cara incrível que, mais que difundir e vender suas obras, quer compartilhar conhecimento! É certo que tenho aprendido muito com nossas prosas, enquanto ele vai criando novas peças ali mesmo no pavilhão de artesanato do Revelando São Paulo, onde constantemente nos encontramos. 

E é incrível como, no meio duma "prosa besta", contando "causos" e "jogando conversa fora", as mãos do Felipe vão erguendo figuras imponentes, solenes ou sofridas, dum certo barroco brasileiro, assim... como quem nada quer... Por isso eu disse que ele cria obras "com o pé nas costas e de olhos vendados". Porque muitas vezes eu o vejo criando peças belíssimas com a naturalidade e a despretensão de quem descasca uma laranja distraidamente... Ele está ali conversando com você, proseando e te dando atenção, mas o que ele está criando nesses momentos "à toa" são peças de inegável valor artístico, carregadas de força e dramaticidade barrocas!

Coisicas Artesanais - Felipe Callipo
Ainda inacabado: conversa vai, conversa vem, assistimos a este Francisco Xavier nascendo das mãos de Felipe.
 Foto: Simone dos Santos

Quem quiser conhecer mais um pouquinho do trabalho desse artista incrível, cheio de um carisma discreto e dono de um talento sem medidas, pode acessar sua página e se encantar de beleza barroca! Aqui, ó: Oficina do Barro.


Leia aqui a entrevista que Felipe Callipo concedeu ao Coisicas Artesanais!
  
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Breve roteiro barroco MG/SP para amantes do tema (ainda que iniciantes e/ou leigos como eu) - Viagens, passeios e leituras sugeridos:


Aproveitando que, neste post, eu falei dum cara que me inspira sempre a buscar mais conhecimento, quero também compartilhar algumas dicas extras sobre "coisas" que foram comentadas aqui - para o caso de elas terem causado curiosidade em alguns dos meus (talvez 6) leitores... 

Para se impactar com a verdade das feições angulosas e a expressividade dramática dos personagens de Aleijadinho, vá a Congonhas do Campo, em Minas Gerais, e visite a Basílica Bom Jesus de Matosinhos, sobretudo as Capelas dos Passos, na subida para a Basílica. Também lá, sobre o muro que cerca o adro, estão os seus Profetas.

Para ver de perto a Nossa Senhora mulata de Manoel da Costa Ataíde, visite a Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, também em Minas Gerais. Lá dentro, sua "Assunção", ou "Porciúncula", no forro da nave principal (provavelmente a obra mais conhecida e comentada de sua autoria) revela uma Nossa Senhora de feições negras e de pele parda - como a minha (e, talvez, também como a tua). 

Obs.: Tanto em Congonhas como em Ouro Preto é possível apreciar a arte de ambos, Aleijadinho e Mestre Ataíde, com obras por um esculpidas, pelo outro pintadas. 

Sobre a produção das Paulistinhas e sobre seu mais conhecido artista popular, Dito Pituba, o médico e pesquisador Eduardo Etzel deixou livros interessantes publicados a respeito (estão esgotados, mas ainda é possível encontrá-los em sebos). 

Para ver de perto peças do barroco paulista e, sobretudo, as pitorescas Paulistinhas, faça uma visita (ou muitas!) ao Museu de Arte Sacra de São Paulo (do ladinho da estação Tiradentes do metro paulistano). 

Ainda em São Paulo, no Museu Afro Brasil, é possível visitar uma sessão dedicada exclusivamente aos aspectos artísticos/estéticos do legado negro nas obras do período colonial brasileiro. (Aleijadinho e Padre Jesuíno também são lembrados aqui). O museu fica dentro do Parque Ibirapuera.

Sobre vida e obra do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, há um livro de título homônimo escrito por Mário de Andrade (o último de seus livros, aliás) em que o pesquisador, após levantar dados documentais e baseados em relatos orais, "recria" a história do padre mulato, viúvo e pai de quatro filhos vivos, numa espécie de "conto biográfico" - como o próprio autor classificou. Indico a edição de 2012, que (além da história deliciosamente escrita por Mário de Andrade) traz artigos e fotografias, bem como algumas notas do autor que não constaram das edições mais antigas).

A maior parte dos afrescos pintados por Padre Jesuíno retratando alguns anjos e santos mulatos se encontra nas igrejas da cidade paulista de Itu, sobretudo a de Nossa Senhora do Carmo. Na cidade também há uma igreja erguida por ele com ajuda de seus filhos: Nossa Senhora do Patrocínio.

E sobre a formação da identidade cultural brasileira, não se atendo ao tema do barroco, mas tratando das nossas brasilidades num panorama mais amplo, o livro "Histórias Mestiças", com organização de Adriano Pedrosa e Lilia Moritz Schwarcz, traz uma seleção de textos documentais e resenhas com relatos e reflexões escritos e publicados desde os primeiros anos do nosso "descobrimento" até a modernidade.

Boas leituras e ótimas viagens! :)
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Sandra - "Brincadeiras de todos os tempos"... e um pretexto pra falar de Natal



Coisicas Artesanais - Mais um Divino


Revelando São Paulo

29 de janeiro de 2016

Olavo Campos - arte naif de alegrar os olhos! (e uma breve entrevista)


O seu Olavo é um senhor encantador! Para além do artista ganhador de inúmeros prêmios (dos quais ele fala com alegria) e para além dos quadros belíssimos que ele pinta (e que eu tive a oportunidade de conhecer - adivinha onde? Sim... no Revelando São Paulo!), o seu Olavo é uma figura super simpática, dono de uma boa prosa e se revela um cara muito lúcido, que "manda a real" com naturalidade e sem medo de ser franco. Sua experiência de vida deve lhe ter dado essa virtude...

Seus quadros reúnem cores e formas lindíssimas, transmitindo uma sensação inevitável de alegria! Seu Olavo mescla pontinhos, bandeirinhas, florezinhas e rendas que servem como pano de fundo para os temas populares que ele desenvolve sobre material reciclado - pedaços de madeira, palets, compensados...

Festejos, casamentos, igrejinhas e praças cercadas de gente, carnavais, folias de reis, pavões e galinhas, além de santos da tradição católica que gozam de grande simpatia entre muitos brasileiros estão entre seus temas, na grande maioria das vezes, retratados sob as nuances delicadas e graciosas de uma abordagem naif. 

Coisicas Artesanais - Dois belos quadros de Olavo Campos
Dois quadros de Olavo Campos: Folia de Reis e "Cidinha" (como ele se refere à padroeira do Brasil)
Fotos: Simone dos Santos

Entre folias e Franciscos, entre pracinhas e Beneditos, entre igrejinhas e Aparecidas, o artista plástico Olavo Campos foi super gentil em conceder ao Coisicas... essa entrevista no Revelando São Paulo ocorrido em Atibaia, em janeiro de 2016

Coisicas Artesanais - Seu Olavo, onde o senhor nasceu e em qual data?
Olavo Campos - Nasci na cidade de Tietê, em 26/10/1934.

C.A. - Na infância, quais eram suas brincadeiras preferidas?
O.C. Era pega-pega, esconde-esconde, pula-sela... Bolinha de gude, bocha, pião... Essas brincadeiras assim... (risos)... Festa religiosa a gente também participava.

C.A. - E nessa época o senhor sonhava em ser o quê quando crescesse?
O.C. - Eu nem sei, viu? (risos) Eu não tinha noção do que eu queria... Eu só fui ter realmente noção depois dos 23, 24 anos... Que antes eu morava com pai, com a mãe, era mais escola, nadar no rio, roubar banana do vizinho (risos) e assim ia, viu? Não tinha muita pretensão. As coisas aconteceram naturalmente...

C.A. - E como foi que o senhor encontrou a arte?
O.C. - A arte eu comecei com 7 anos... Eu tinha um primo que era pintor, famoso, e ele me deu algumas dicas, me deu algumas telas, tintas... Que dinheiro pra isso não tinha não, viu? Sabe que é até gozado eu conversar isso aqui... Eu pegava pano de prato da minha mãe, pegava anil, pegava flor amarela, mato... pra fazer tela, pra pintar...

C.A. - Então..., tão novinho, com 7 anos de idade, o senhor já pintava!...
O.C. - Ai, eu enganava, né? Não pintava muito não... (risos)

C.A. - Ok... (risos) Então a gente pode dizer que, desde cedinho, o senhor já sabia que gostava de pintar, né?... E em qual momento da sua vida o senhor entendeu que isso poderia se tornar o seu trabalho, o seu caminho?
O.C. - Isso começou depois de 11 anos de banco... Eu trabalhava num banco. Um belo dia eu saí de férias e fui pra Caruaru, fui lá passear, levei umas peças minhas pra vender... Depois... Eu vou te dizer... Eu percebi: não quero mais trabalhar no banco! Pedi pra eles me mandarem embora, eles me mandaram... E tinha um amigo que trabalhava no banco que era primo de uma senhora ceramista do Embu* e daí ela me convidou pra vir pra Embu, e foi lá que eu comecei. Aprendi muita coisa e daí comecei.

*(Embu das Artes, cidade vizinha a São Paulo que abriga centenas de artesãos que lá vivem e/ou expõem seus trabalhos, assim como o senhor Olavo, que mora lá até hoje)

C.A. - Os primeiros trabalhos do senhor já tinham essa característica naif ? Ou o senhor foi desenvolvendo isso com o tempo?
O.C. - Não, eu nem sabia o que eu estava pintando... Eu pintava miscelânea, eu pintava qualquer coisa... flor, paisagem, montanha... Não tinha... Eu não sabia nada, a verdade é essa. Daí, com o tempo que eu estava em Embu, mais pra frente um pouquinho, a gente começa a ter outra perspectiva, daí eu comecei a ver pintura naif, e as pessoas vão te dando palpites: "faz isso, faz aquilo, tá faltando isso, tá faltando aquilo" e daí você vai pegando jeito pra coisa... Porque ninguém faz nada sozinho... Não é verdade?

C.A. - É verdade, seu Olavo, ninguém faz nada sozinho. Me parece, então, que o senhor estava no lugar certo e na hora certa! E cercado das pessoas certas (!) que te ajudaram a compreender melhor e a construir seu caminho na arte, né? É certo dizer, então, que foi desse modo que o senhor foi encontrando a sua identidade artística dentro da linguagem naif ?
O.C. - Sim, de certo modo sim, mas... Pra ser realista mesmo? Você tem que fazer aquilo que te dá dinheiro. E o que dá dinheiro é isso: o que as pessoas gostam. Eu não faço só naif, faço  também geométrico, faço acadêmico, faço outras coisas... Quando eu estava começando, na verdade, eu não pensava nem em vender. Fazia por fazer, porque eu gostava, que eu já tinha de onde tirar o meu sustento: eu trabalhava no banco, entende? 

C.A. - Seu Olavo, o senhor tem um olhar muito prático sobre esse tema, né? Com tanta clareza e tanta experiência, o que o senhor poderia dizer pr'aquelas pessoas que estão sonhando em trilhar o caminho da arte? Que dica o senhor daria pra quem está começando agora?
O.C. - Olha, como qualquer tipo de trabalho, pintura é uma prática. Se você tem um sonho na vida, gosta daquilo, não desista, não pense no dinheiro, pense no que você gosta, o dinheiro vem automaticamente.

C.A. - É consequência, né?
O.C. - É. Isso aí! (risos) 

Falou e disse, seu Olavo! 

Coisicas Artesanais - Olavo Campos no Revelando São Paulo - Atibaia - Janeiro/2016
Seu Olavo entre seus belíssimos quadros expostos no Revelando São Paulo, em janeiro de 2016, em Atibaia.
Foto: Simone dos Santos

De volta ao Rio, depois de transcrever essa entrevista, eu fiquei intrigada com uma coisa... Olavo Campos assina seus quadros como Camps. Já tinha reparado (afinal - e inclusive! - tenho um quadro dele há alguns anos aqui em casa!) mas nunca tinha parado para pensar a respeito... Haveria alguma razão para isso? A curiosidade não me deixou concluir a postagem sem antes tirar isso a limpo. Passei a mão no telefone e liguei pro seu Olavo.

C.A. - Mas-hein, seu Olavo, porque o senhor assina Camps? Tem alguma razão?
O.C. - Sim, sim. É porque meu nome é Olavo Campos... e Campos é muito comum!

Ah, tá! Agora está explicado! (E eu "pirando", pensando em mil explicações de teor numerológico, xamânico ou de superstição...)

Muito agradecida, seu Olavo, por compartilhar aqui no Coisicas... um pouquinho da tua história e do teu carisma! Estou muito feliz por isso! :)

Quem quiser conhecer um pouco mais do lindo trabalho do seu Olavo, é só acessar aqui e aqui! E quem tiver vontade de conhecê-lo pessoalmente, ele está aos domingos e feriados na famosa feira de arte e artesanato de Embu das Artes

E se você gostou dessa entrevista, aguarde... Em breve outros artistas virão ter um dedin' de prosa conosco, aqui no Coisicas Artesanais!


Coisicas Artesanais - Entrevista com Olavo Campos
Festa no arraial - óleo sobre lambri - Olavo Campos
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24 de dezembro de 2015

Sandra e suas "Brincadeiras de todos os tempos"... e um pretexto pr'eu falar de Natal


Conheci a Sandra através do Revelando São Paulo, festival que me propiciou ver de perto o fazer criativo de muitos artesãos. Seu trabalho é encantador. Ela cria e recria brinquedos artesanais de outros tempos... Aliás, "de todos os tempos"... Cinco Marias, piões, bodoques, cavalinhos de pau, cordas de pular, fantoches de cone... E bonequinhos de pano de personagens famosos: sereias, baianinhas, Sacis, Emílias, Viscondes...

Tudo lúdico e delicado. E de uma criatividade encantadora! Pedacinhos de pano, de filó, de renda, botões, fitas, cadarços, cordas, cabos de vassoura... viram arremates e adereços para os seus brinquedos e bonecos, quando não o próprio brinquedo! Impossível não voltar a ser criança diante das criações da Sandra... A molecada chega aos montes querendo tocar em tudo, ver com as mãos. Mas também os adultos! Chegam com olhos brilhando de encantamento e sapequice...

Imagino ter sido esse o meu olhar quando eu vi a peça que me cativou... Foi amor à primeira vista! ... Um palhacinho de folia de reis! 


Coisicas Artesanais - Sandra, Revelando São Paulo
É ou não é de se apaixonar??

Aqui devo abrir um pequeno parêntese para explicar que sou apaixonada por diversos festejos e manifestações da tradição popular brasileira (ou das tradições populares no Brasil - para não cometer injustiça, afinal, são diversas!...). Apaixonada assim: de isso causar em mim rebuliço, "vuco-vuco", de fazer "tum-dum" no coração... De isso, de certo modo, me mover...

E, dentre as manifestações todas de cores e música e fé do povo brasileiro, desconfio que a que mais me comova (pelos impulsos irresistíveis de encantamento - e às vezes de choro - que me acometem quando me deparo com uma) seja a Folia de Reis! A batida do bumbo, o toque das caixas, os acordes da sanfona, das violas, os timbres agudos de vozes que se abrem em melancólicos e quase eternos "ai-ais" e "oi-larais", a Bandeira, a abrir caminhos, e a solenidade de tudo isso, e mais ainda as brincadeiras, a chula, as trovas dos palhaços!... É coisa que me arrebata de eu nem saber explicar... 

Não sabendo explicar, fecho aqui o parêntese então...

Daí que..., quando vi aquele palhacinho de folia penduradinho naquele stand..., tão lindo com seu cajadinho, com sua roupinha de chita, com a sua (fofa!) bolsinha de esmolar e guardar balas para as crianças... (cada detalhe tão rico!), a perfeição da máscara com seus aspectos ambíguos de assombro e doçura... Eu me apaixonei de maneira irreversível!


coisicasartesanais.blogspot.com.br
Detalhe

Comprei o palhacinho, fiz foto com a Sandra, conheci marido dela, filha, genro, netos! E agora, toda vez que volto ao Revelando São Paulo, eu passo lá no seu stand pra lhe dar um beijo... E aproveito para observar como as pessoas vão se aproximando com os olhinhos brilhando de curiosidade ou de alegria... Curiosidade se são crianças, pois boa parte dos brinquedos ali é, para a maioria delas, novidade. E alegria se adultos - por essa coisa mágica e transformadora que é reconhecer antigos joguetes e brinquedos que fizeram parte das nossas brincadeiras de infância, ali, tão vivos, tão pertinho e... ao alcance das mãos! 

trabalho da Sandra é comprometido. E tem um apelo forte e quase documental: esse de resgatar e manter vivos afetos e reminiscências das nossas infâncias, trazendo à tona memórias e aspectos de brasilidade através de personagens da literatura e do folclore que permeiam as nossas fantasias e brincadeiras... de todos os tempos!... 

Quem quiser conhecer o trabalho da Sandra, é só procurar pelo stand da cidade de São Paulo no pavilhão de artesanato do "Revelando...". Por enquanto ela não tem lojinha virtual, mas ela disse que, em breve, terá um link para divulgação e contato e, claro, ele será informado aqui no Coisicas Artesanais!


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Um pretexto pra eu falar de natal aqui...


Não à toa eu decidi fazer esta postagem no dia de hoje... Hoje, dia em que, conforme nos contam diversas fontes de tradição cristã, uma estrela guia teria surgido no céu apontando o local exato do nascimento do Menino-Deus e levando três reis a iniciar uma longa jornada ao seu encontro... Hoje, dia em que, no Brasil, centenas de ternos e companhias de folia de reis recomeçam sua jornada de fé, refazendo simbolicamente, nos seus bairros, o caminho dos Reis Magos, visitando casas, levando a Bandeira, louvando lapinhas, cantando esperanças, partilhando o pão e brincando a chula onde houver pessoas e corações que assim o desejem, nos cantinhos e nas casinhas mais iluminados desse nosso Brasil!

Àquele que crê e a quem não crê; a quem tem esperança ou já nada espera; àquele que canta e àquele que cala; a quem gosta e a quem tem suas razões para não festejar a data de hoje... que tenhamos, todos, uma Noite Feliz, de Paz e de Luz!

"Fiquem com Deus-Nosso-Senhor,
lembrando de celebrar,
que Ele nasce é todo dia
no coração de quem amar!"
(Alegria de Reisado (trecho) - Simone dos Santos) 


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ATUALIZADO EM DEZEMBRO DE 2020 - Conheça a música Alegria de Reisado no vídeo abaixo!



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Uma história sobre os pinheiros de Natal e PAP de pinheirinhos para presentear

30 de novembro de 2015

Marcos e Noeli - o simples e o transcendental juntos


Conheci o trabalho deste casal querido no festival de cultura paulista Revelando São Paulo, que acontece em quatro edições anuais revelando as tradições culturais daquele Estado em diferentes cidades. No festival (imperdível, aliás! - depois dá uma olhadinha aqui, ó), Marcos e Noeli participam como expositores, representando Santana de Parnaíba. 

Suas peças são esculpidas em madeira e a maioria recebe um acabamento apenas em cera, deixando expostos seus belos tons acastanhados. São peças, geralmente, pequeninas e de uma delicadeza estética ímpar. Entre os temas preferidos do casal encontramos belíssimas representações de São Francisco de Assis, outras do Divino (extensamente difundido no Brasil na figura de um pombo com asas abertas) e de alguns Orixás, além de peças que remetem a um período mais remoto de produção artística iorubana.

Tenho duas peças do casal (por enquanto!). Uma, um Francisquinho agachadinho com as mãos apoiadas sobre as pernas a olhar um passarinho no chão que parece o estar encarando de volta e conversando com ele em "passarinhês"... Toda vez que meus olhos "batem" nesta peça e veem esta "cena" meu coração se enternece (é muito encanto!)... A outra peça é um Francisquinho sentado com as pernas esticadas e a coluna impecavelmente ereta (fazendo lembrar um iogue dedicado). Tem um passarinho pousado na ponta dos pés e outro na mão, erguida na altura do seu rosto.


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São Francisco de Marcos e Noeli


Já havia comentado aqui o meu gosto por representações populares que tiram um santo do seu "lugar comum". São Francisco, por gozar de grandíssima popularidade em muitos países, talvez seja dos santos mais "livres" neste aspecto... Existem representações as mais diversas para Francisco! Francisco com passarinhos, Francisco amparando Jesus na Cruz (numa alusão à atemporalidade da alma e sugerindo o recebimento dos estigmas, as chagas de Cristo, que o santificam), Francisco com um crânio, com um crucifixo (ou com ambos), Francisco sorrindo, Francisco orando...

Os Franciscos de Marcos e Noeli são simples. De uma simplicidade profunda e bela - franciscana, eu diria até. Sem adornos, sem cores, sem demais elementos que "mascarem" o essencial, sem "desimportâncias". Com tanta simplicidade, o foco se volta para a força da cena que se representa - sempre gentil, doce, despretensiosa. E por isso estas peças são tão encantadoras! Porque nelas você vê Francisco, não a criatura revestida de intangível santidade, mas o homem simples com alma desnuda de menino, curioso diante dum passarinho ou placidamente confiante e sereno diante de um lobo e para quem, naquela representação, aquele momento (o passarinho ou o lobo) parece ser a coisa mais importante no mundo...

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São Francisco de Marcos e Noeli


Além desta característica, há uma outra que também me agrada muito na obra do casal. É que a simplicidade de suas peças transcende a "cena" e percebe-se presente também nos próprios traços do seu entalhe, permitindo que a madeira seja parte da representação artística, de modo particular e intrínseco. A madeira passa a ter um papel importante, servindo de abrigo para as figuras que a ela se ajustam em nobres e generosos gestos de caber-se, de incorporar-se.... 

Este aspecto, de um certo modo, parece que dialoga com a simplicidade prima e rudimentar das peças que remontam à tradição iorubana, também produzidas pelo casal. Quando você vê, lado a lado, seus Franciscos e seus ícones iorubanos nas exposições de que participam isso parece muito claro. O "traço" do entalhe destes se comunica com o "traço" do entalhe daqueles.

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Oxum de Marcos e Noeli

Ademais, é certo que este traço característico nas suas peças está, antes, na alma do artista e passa da sua alma para as suas mãos e, destas, para o que ele cria. Afinal, uma criação não é senão o aflorar material de conteúdos imateriais que carregamos cá dentro... Neste sentido, a obra de Marcos e Noeli é carregada de elementos simbólicos e pequenos diálogos em diversas camadas de ancestralidade. Causa impacto pela simplicidade e porque, ali, sem que nos demos conta exatamente, estamos diante de elementos que fazem contato com o transcendental que habita em nós.

Conheça o trabalho de Marcos e Noeli aqui, ó!
 
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Leia aqui a entrevista que Marcos e Noeli concederam ao Coisicas Artesanais! 
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Revelando São Paulo