8 de novembro de 2018

Meu primeiro 'vídeo-PAP' - Assumindo o canal Coisicas no youtube... (Ou quase)


Tem coisa de dois anos e meio eu criei um canal no youtube com a única e desinteressada intenção de publicar uma canção minha (apenas e tão somente porque não conseguia publicá-la diretamente aqui no Coisicas...). No mês passado eu acabei publicando outra música minha lá e, nesse período todo aí, usei aquele canal apenas duas vezes!

Apenas agora, bem recentemente (tipo: semana passada!), me ocorreu que eu poderia (deveria!) usar aquele canal para publicar meus PAPs. (Eureka??)

Bem, aqui devo fazer uma ressalva... (três anos de blog e a "pessoua" começa a contar seus segredinhos ou manias disfarçados em "ressalvas")... Eu não tenho a menor simpatia, curiosidade, pendor ou sentimento de "pertencimento" por redes sociais... Não tenho nenhuma dessas "ferramentas ciberfacilitadoras da comunicação humana"... E nem pretendo. 

Para queimar a minha língua... tenho este Blog! (Tá. Já me situaram, é bem verdade, que isso anda meio fora de moda, que "não funciona", que "ninguém lê blog", mas eu adoro o Coisicas! - Fazer o quê??). E tenho também uma conta no pinterest, porque uma amiga (doida!) abriu lá pra mim sem me perguntar! (Ela sabia que, se me perguntasse, eu não toparia, rsrs - Mas..., pra ser bem sincera, passado o susto inicial (que durou uns 6 segundos), eu até curti que ela tenha criado um pinterest pra mim! :)). 

Essa ressalva aí foi só para explicar por que razão uma criatura tem conta no youtube e, em dois anos e meio, usou apenas duas vezes! E, ainda (e mais grave), por que essa mesma criatura, tendo um blog de artesanato onde publica PAPs de vez em quando (com textos exteeeeeensos), nunca pensou, considerou, vislumbrou ou cogitou a possibilidade de fazer "vídeo-PAPs" para mostrar como fazer essas pecinhas dum modo mais fácil, valendo-se duma linguagem mais atual e atraente... 

É que essa criaturinha aqui é beeeeem "desconectada"... :P

Mas agora eu pretendo me redimir! E resolvi me esforçar em "assumir" o canal e "reinaugurá-lo" com PAPs simplezinhos e fáceis... Começo por um que até já publiquei aqui (de um quadrinho do divino montado sobre porta-retrato).

O mais bacana, divertido, interessante e curioso dessa história toda, a meu ver, é que acabei me empolgando de verdade e fiquei super inspirada a criar uma vinheta alegrinha especialmente para a ocasião! Porque... vamos combinar: vídeo mudo ninguém merece, né?? ;) Daí, imaginei uma base bobinha de violão com 3 acordes, bolei um assobio bobo e repetitivo (a ideia era mesmo essa, rs), mostrei pro marido e ele interpretou e traduziu os meus "blons" (minha tentativa de vocalizar os acordes que tinha imaginado pro violão) e ainda criou outras linhas de violão! Então gravamos, brincamos de inserir palmas, gritinhos e... Não é que a minha vinhetinha ficou com cara de trilha sonora de vídeo de youtuber de verdade?! =)

Se vou me manter firme no esforço de fazer vídeo-PAPs por muito tempo, sinceramente, eu não sei...  (atentem para o QUASE do título deste post)... Mas essa história toda aí já me rendeu uma vinheta delicinha e um enorme divertimento! rs...

Replico aqui o vídeo com o PAP (e a vinheta!) pra vocês. E, já que é pra encarar o Youtube e experimentar sua "linguagem", então não posso deixar de "fazer a youtuber" e pedir: cês vão lá pra me dar um joinha, né não?? ;)





Vai lá! 
Se inscreve e dá um joinha! ;)
Canal Coisicas Artesanais

...............................................................................................................................................................


Poderá também gostar de...
Coisicas Artesanais - Série "Bandeirinhas do Divino" (parte I) - uma homenagem e uma canção...
  
Histórias de não esquecer - A cura do Libório

4 de outubro de 2018

A tristeza do imbuzeiro - uma "ciranda-canção"


Hoje não tem artesanato, mas uma canção...

Acho que preciso me justificar aqui... Afinal, esse blog foi criado para falar de artesanato e de coisas/pessoas a ele relacionadas...

Acontece que essa coisa de escrever em blog acaba por adquirir certo caráter de "meu diário" e, muito embora eu evite fazer isso por aqui, é inevitável que vez ou outra eu acabe mostrando mais "a cara" (e o que se passa no coração)...

E, então, acontece que Música é algo que "se passa" com a maior importância no meu coração! E é, provavelmente, o mais essencial alimento da minha alma... Meu ar puro, meu bálsamo, meu aconchego... E, assim, representando tudo isso para mim, ela é também muito maior e bem mais forte do que eu e, por vezes, me inspira "devaneios" e me move (contra minha própria razão) a fazer coisas meio nonsense - como, por exemplo, colocar uma ou outra música minha (mesmo que sem um mote - como é o caso desta de hoje) num blog onde me proponho a falar sobre artesanato...

Pronto. Acho que já está tudo devidamente explicado, né? ;)



Minha "ciranda-canção" e seu anseio de ser


A tristeza do imbuzeiro é uma música que "compus" (melhor seria dizer "intuí") no ano de 2014. Uma ciranda. Minha "ciranda-canção"... Ficou "guardada" no meu aparelhinho de mp3 com a letra rabiscada num caderninho cavoucado entre livros na estante... No ano passado marido criou um arranjo de violão todo lindo, todo abraço, todo aconchego para ela e, então, passamos a mostrá-la para alguns amigos e familiares.... E foi daí que veio a ideia (e a cobrança) de gravá-la (ainda que amadoramente) para poder publicá-la e deixar que tomasse vida, que passasse a existir...

Sim, porque música estocada em aparelhinho mp3 ou celular, música naquela pilha de cds empoeirados na estante, música anotada em partitura sobre o piano na sala da tia-avó que deixou de tocar devido à artrose... Nada disso é música, apenas registro, esquecimento ou privação... Música só é música naquele instante "mágico" em que soa, nota por nota, e nos toca, nos alcança e se faz dentro de nós... Música só é música quando, soando, nos invade pelos ouvidos, pela pele, pelos pés... coração adentro (ou coração afora) e se instala e acontece dentro de mim e de você, que a ouvimos, a sentimos, a reverberamos, somos por ela modificados e, em troca, a atribuímos sentidos, importâncias, memórias, esperanças... Apenas nessa hora a música existe.

Por isso eu vos ofereço esta que, muito embora minha, de autoria, não se quer "minha", mas de todos, de qualquer um, de tantos quanto possível... para poder tomar vida em cada momento que alguém, qualquer um, clique para ouvi-la e, assim, acontecer por aí, nuns ouvidos e corações desconhecidos, e ganhar novos sentidos e realizar-se e fazer-se plena em existência e, finalmente, ser música e, mais uma vez e tantas outras mais, poder tornar sempre a SER!

Que ela, então, assim SEJA!  ♥ 


Sobre devaneios


Devaneio 1: ela (A tristeza do imbuzeiro) não pôde esperar que eu, num esforço sincero de realizar um desejo guardado (entenda-se: devaneio tresloucado), conseguisse um contato para ofertá-la a Mônica Salmaso ou a Ceumar que, certamente, dariam brilho e beleza pra sua simplicidade. (Eu disse que era devaneio, né?). Impaciente, a pulular (o que é justificável depois de tantos anos a pobrezinha "trancada", ansiando vida), quis sair à rua logo, simplinha mesmo, como estava: descalça e de cara limpa, sem nem um batonzinho, sem nem um brinquinho na orelha... No anseio urgente de ganhar vida e animada pelo violão todo-amor que meu marido criou pra ela, me impeliu a fazer seu registro sonoro e a cantá-la - eu mesma, com os poucos recursos vocais de que, amadoramente, posso hoje dispor... Obedeci humildemente. E guardo a expectativa de que meus amigos e meus leitores (por ora, ouvintes), sabendo que somos (cantora e violonista) amadores, saberão também compreender e relevar nossas quase discretas falhas neste (urgente!) áudio, motivo pelo qual já vos somos muito gratos! ;)

Devaneio 2: antes mesmo de gravar A tristeza do imbuzeiro em estúdio, mas já em vias disso (o que significa dizer que naqueles dias eu dormia e acordava pensando nela), num certo sábado eu acordei com uma ideia bem maluca na cabeça (isso não é incomum, rs)... Maluca, mas tão clara e persistente (e tão fofa!) que eu não pude outra coisa senão me render (e me apaixonar perdidamente)... Naquele sábado recém-amanhecido, um desenho animado em preto e branco passava inteirinho na minha cabeça mostrando a história do imbuzeiro que entristeceu de saudades de uma rolinha que avoou pra longe... Tive certeza, naquela hora, de que a minha "ciranda-canção" deveria ser publicada com um filminho/desenho, ainda que simplão e caseiro... Tipo um clipe! :) Pedi ajuda ao meu cunhado, um cara que adora desenhar e faz desenhos lindos! Ele topou, feliz e engajado, e o "devaneio" daquela manhã de sábado, que me deixou com o coração palpitando pelos dias seguintes e outros mais, se tornou um filminho caseiro, fofo e real! ;)


Clique abaixo e conheça a música e o desenho "A tristeza do imbuzeiro" ;)




A tristeza do imbuzeiro
(Simone dos Santos)

Lá do alto do imbuzeiro rolinha avoou,
fez lembrar o dia quando partiu meu amor.
Imbuzeiro magoou de saudade de você, rolinha,
desde então o pobrezinho perdeu seu esplendor...

Lá do alto do imbuzeiro rolinha avoou,
fez lembrar o dia quando partiu meu amor.
Imbuzeiro magoou de saudade de você, rolinha,
adispois daquele dia nunca mais se abriu em flor.

Voa, rolinha! Torna voar! 
Longe de casa, tanto céu pra festejar...
Voa, mas volta pro teu amor,
pro meu imbuzeiro tornar se abrir em flor...


Minha sincera gratidão:

Aos meus pais e minha irmã, pela mais bela torcida - e a mais querida!

Aos amigos (Gui, Catita, Gíio, Lú, Myrtinha, Búbs) que (cada um ao seu modo), quando ouviram "A tristeza do imbuzeiro", me fizeram crer que, sim, eu deveria gravá-la! - Antes mesmo da Mônica Salmaso ou da Ceumar... ;)

Ao Brenno e ao Luiz Filipe, pela paciência e dedicação em estúdio.

Ao Marco Perez (o cunhado mais maneiro que minha irmã poderia me ter arranjado, rs) que, com tanta entrega e paixão, paciência, generosidade e carinho, fez os desenhos que tornaram realidade um dos meus (muitos) devaneios ;)

Ao Dagô, pela parceria que transcende ao arranjo desta canção...

...............................................................................................................................................................


Poderá também gostar de...






7 de agosto de 2018

Coisicas Artesanais - Pombinho em flor (mais um!)


Não nego, admito, assumo... Não dá mais pra disfarçar... Acho que amo montar pombinhos em flor, essas pecinhas que já estão ficando "batidas" por aqui... ;)


Coisicas Artesanais - Simone dos Santos
Ai-ai... 

Descrição e medidas: pombinho de madeira com efeito patinado sobre flor de madeira pintada de rosa antigo, ambos lustrados com cera em pasta. Aplicação de palha da costa, corda de juta, fita de cetim e 'perolinhas'. Diâmetro da flor: 7,5 cm; altura: aproximadamente 15 cm (considerando-se desde o "prendedor" até a ponta das fitas/cordas); profundidade: 3,2 cm (considerando-se a espessura da flor mais a projeção da cabecinha do pombinho). 

Valor: R$ 25,00 (+ frete). ATUALIZADO: essa pecinha foi vendida.

Quer ver outras pecinhas ainda disponíveis? Visite a Lojinha ;)

Quer conhecer meus outros pombinhos em flor? Veja nos links abaixo:



...............................................................................................................................

Poderá também gostar de...

1 de agosto de 2018

Coisicas Artesanais - Pombinho no coração de madeira


No ano passado eu comprei uns corações (lindos) de madeira e uns mini pombinhos para poder voltar a imaginar e criar novas coisicas por aqui.

Os pombinhos vão me dar trabalho, porque vieram com acabamento muito ruim e asinhas que mais parecem de abelhas, de tão pequenas... Estou cuidando disso aos poucos, com "próteses" de papel e massa de madeira, de modo que os pombinhos já "remendados", tivessem vontade, poderiam até voar! ;)

Já os corações, vieram tão bem acabados, tão bem lixados, tão lisinhos, tão lindos... que eu decidi deixar essa pecinha o mais natural possível, revelando toda a beleza da madeira...

E o resultado foi algo entre a delicadeza e a simplicidade...


Coisicas Artesanais - Simone dos Santos

Atualizado em janeiro de 2019: acabou-se o que era doce... "Tem mas acabô" ;)

Este aí não tem mais, mas se você está curtindo as coisicas que tem visto aqui no Coisicas, dá um pulinho na Lojinha e escolha outro mimo pra chamar de seu ;)

...............................................................................................................................................................

29 de julho de 2018

Sobre "Matrix", cenouras e o novo mito da caverna

(Reflexões ligeiramente ácidas num blog que se quer doce...)

Quando assisti ao filme Matrix, no finalzinho do milênio passado (ou no comecinho desse, já não sei...), achei tudo aquilo incrivelmente viável e compreendi que, metaforicamente, já estávamos vivendo numa espécie de "matrix", branda ainda e que tenderia a se agigantar e deixar de ser metáfora com o passar dos anos, visto que (a meu ver) já havíamos (nós, a Humanidade) startado o seu processo (ao que parece - e para aliviar nossa dor moral) inadvertidamente: um descuido, um esbarrão, uma "apoiada" com o cotovelo esquerdo e... (Putz!!!) START!

Contudo, àquela época, eu acreditava mesmo que levaria muitos anos até que a "coisa" se revelasse insustentável e nos sufocasse e lobotomizasse como naquele filme e que eu, então já velhinha e de costas curvadas pelo peso dos anos, pouco assistiria daquilo e, quiçá também com a mente cansada, tampouco teria interesse intelectual para acompanhar o caso e me importar... Engano meu. Com o passar do tempo o tempo passa mais rápido (isso é fato incontestável entre os mais velhos) e nos alcança os tornozelos... E, então, fui alcançada (em pleno gozo de coluna e juízo sãos) por esse fenômeno que, creio, somos ainda incapazes de decifrar, compreender e nominar ou classificar adequadamente, com clareza e imparcialidade, visto sermos dele contemporâneos e estarmos assistindo apenas ao começo do seu processo, que terá ainda muitos desdobramentos... A tarefa será legada às gerações futuras.

Mas, afinal, de que estou falando? Que coisa é essa que nos agarra pelos pés e, no entanto, não nos faz sentir presos?? (Pelo contrário, nos faz sentir "livres"!)... Que fenômeno é esse que fomenta sentimentos e calores tão intensos quanto passageiros e que coloca discursos nas nossas bocas e nos faz empunhar bandeiras que passamos a defender com súbita paixão? (Até que conheçamos o novo tema mais comentado da semana, que passaremos a reverberar com renovada dedicação...).   

Quem aqui se lembra da repercussão que teve o fato de alunos de uma escola pública haverem recebido cenouras e uma receita de bolo como presente de Páscoa? Em qualquer comunidade saudável, sem danos sociais graves causados por décadas de irresponsabilidade e má gestão da coisa pública e onde os cidadãos não guardem traumas decorrentes da privação do mais básico e essencial a sua dignidade, um gesto como esse (a despeito do alegado erro de cálculo na compra das cenouras) poderia ser visto com naturalidade e mesmo alguma simpatia. Mas esse, infelizmente, não é o nosso caso. E indignaram-se aqueles pais. E legitimou-se sua indignação por meio de notícias na internet. E o que vimos a partir daí foi uma grande parcela da sociedade repercutindo o que, já então, era por todos considerado um grande absurdo. 

O que me causou assombro no episódio não foi tanto a indignação daqueles pais (justificável sob muitos aspectos), mas a maneira como a divulgação do fato levou outras pessoas (com ou sem filhos, em idade escolar ou não) a fazer eco daquela indignação, criando uma condição para que o ocorrido virasse notícia nacional... Vi uma pessoa, supostamente imune ao "mecanismo da matrix", comentando "o absurdo" com uma indignação que verdadeiramente não sentia, apenas repetia, reverberava..., porque assimilou e tomou para si o peso e o tom do "julgamento midiático" que foi dado para o caso.

E isso é verdadeiramente assombroso porque, por exemplo, o real e implacável sucateamento que vem sofrendo a nossa educação pública nas últimas décadas, o fato de uma enorme parcela dos nossos jovens de escolas públicas chegarem ao ensino médio (e o concluírem!), infeliz e vergonhosamente, sem capacidade de ler e compreender um texto como este mesmo (que você pode ler e compreender agora), ou o fato, ainda, de os nossos professores estarem desmotivados, desesperançados, achacados, adoecidos, com seus salários atrasados (para além de incompatíveis com o tamanho da sua importância social, também já esquecida), trabalhando (não poucos) em condições de ameaça ou de violência efetiva, sentindo-se impotentes e (natural que assim seja), em tantos casos, já indiferentes às próprias condições mazelentas de trabalho... Nada disso tem sido tema para uma pauta de absurdos noticiáveis sobre as nossas reais, mais profundas e mais severas indignações...

Que troço é esse que nos faz esquecer as nossas reais e mais sentidas dores e indignações para nos fazer assumir uma "necessidade" de vociferar por coisas mais amenas??

Na falta de novas figuras, vou me valer de uma velha... Creio que estejamos (re)vivendo um novo mito da caverna. Novo porque de tempos modernos, cibernético. Revisto e atualizado. No mito clássico, de Platão, os homens acreditavam ser realidade aquilo que viam projetado nas paredes da caverna que os abrigava. Nunca haviam saído lá de dentro e nem cogitavam haver outra vida possível. Tudo o que conheciam e que, portanto, reconheciam como "real" era aquilo que podiam ver projetado dentro da caverna: não mais que as sombras de toda uma realidade que existia do lado de fora - e que eles ignoravam. 

Hoje as paredes da nossa caverna são telas de aparelhos televisores, tablets, laptops, telefones celulares e outras fontes onde buscamos "informação" ou "entretenimento". E tudo o que vemos refletido ali nos soa tão real como a própria "Verdade". Fato. Acatamos. Não desconfiamos, não questionamos. Antes disso já replicamos, reverberamos, compartilhamos, nos inflamamos, tomamos partido aqui e acolá, levantamos a bandeira e a voz... Somos enredados e nos enredamos...

(Parêntese rapidinho para explicar que "buscar", aqui, pode ser pura força de expressão, uma vez que bastam alguns cliques para que nossos celulares inteligentes mapeiem tudo o que nos interessa e passem a fazer pipocar diante de nós as notícias que mais gostamos de ler, sem que precisemos de fato buscar coisa alguma.)

Na época da expansão nazista, um ministro da propaganda nazi disse que uma mentira mil vezes repetida se torna verdade. Em tempos de internet não é preciso tanto. E aquele ministro, vivesse nos dias atuais, seria poupado do trabalho tedioso - porque nós, cidadãos comuns, o faríamos em seu lugar. Nós, cidadãos comuns, partidários ou não daquelas ideias, replicaríamos e repetiríamos (ingenuamente ou não) aquilo que logo viria a se tornar "verdade"... Exatamente como temos feito (poupando o trabalho a outros na atualidade).

Mentiras ou meias-verdades tendenciosas, um fato distorcido ou simplesmente mal explicado, uma difamação decorrente de uma distorção dessas, um vídeo grosseiro ou uma piada infame e ofensiva, qualquer "coisa", uma vez publicada, será mil vezes repetida e replicada por pessoas que não se questionaram a respeito da veracidade, da importância ou utilidade daquele conteúdo e que, infelizmente, não consideraram a possibilidade de "quebrar a corrente" (deixando de compartilhar aquilo que elas mesmas, num exame franco de consciência, tomariam por dúbio ou mal explicado, questionável, tendencioso, mentiroso ou abusivo ou, simplesmente, "feio" e de mal gosto).

E, então, temos sido plateia generosa e sem filtro crítico diante de toda e qualquer coisa (produto ou ideia) que se queira nos fazer crer e propagar (ou propagandear...). 

Há uma diferença ainda, e perversa, entre essa caverna moderna que habitamos e aquela da antiguidade, de Platão: lá não havia quem estivesse de fora a manipular (literalmente, no caso) objetos quaisquer no intento de projetar esta ou aquela sombra na caverna, causando esta ou aquela impressão em seus habitantes... Hoje temos "titereiros" a pensar, analisar e escolher as "sombras" que contemplaremos como reais e repercutiremos mecanicamente no aconchego das nossas modernas cavernas...

Por isso é tão importante que estajamos atentos ao que replicamos e disseminamos por aí. É importante que startemos também o nosso "desconfiômetro", o nosso senso crítico (na maioria das vezes bastaria o bom senso), para podermos vislumbrar sair desse mecanismo cíclico e viciado com a nossa matrix (que alimentamos com o nosso comportamento e onde passamos a nos alimentar); para despertarmos do torpor da caverna, desse sono mórbido em que fomos lançados pela fugacidade das coisas, pela ligeireza dos acontecimentos, pela nossa ansiedade, ignorância e preguiça mental diante disso tudo, pela repetição de mentiras que nos confunde e embaça o olhar, pela recorrente banalização das nossas reais e mais profundas necessidades, essenciais, de respeito e dignidade em sociedade, ora reduzidas a (ou substituídas por) "necessidade" de bens de consumo e/ou de um "bem-estar" raso e imediato (também baseado no consumo)...

Existe um "preceito", controversamente atribuído a Sócrates¹, que sugere que tudo o que temos a dizer passe, antes, por um crivo com três questionamentos:

- o que tenho a dizer é verdade?
- o que tenho a dizer é necessário?
- o que tenho a dizer é importante?

Se nos fizéssemos essas 3 perguntas (e se pudéssemos nos responder com sinceridade), concluiríamos que andamos repercutindo coisas demais e, possivelmente, coisas que nada têm a ver com as nossas reais (negligenciadas e ressentidas) necessidades humanas...

No mais, é importante que esteja muito claro aqui que a responsabilidade por esse estado de coisas é muito nossa. Não podemos atribuir vilania e culpa aos "titereiros" do lado de fora da nossa caverna.  Eles não agem sem nós. Apontar-lhes o dedo seria simplificar demasiado as coisas e esquivar-nos do ônus que é nosso para abraçar a justificativa de que "não depende de nós, está acima de nós, não podemos fazer nada"... E gozar da paz de espírito que tal crença nos traria e "dar de ombros", permanecendo no mesmo lugar e mantendo a mesma postura... Quem decide passar uma notícia, matéria ou vídeo adiante, quem opta por clicar em "compartilhar", quem se deixa inflamar e repercute notícias absurdas sem refletir a repeito, afinal, somos nós próprios. Essa é a nossa parte e é a parte que podemos mudar. Para deixar de alimentar a nossa matrix... antes que ela nos devore.

_________________________________
Notinha superpessoal de rodapé:
¹ Sim, acabo de replicar essa informação sem ter certeza da sua veracidade ou fonte, muito embora tenha declarado (e em negrito) que a referida atribuição a Sócrates é controversa (o que não necessariamente servirá para me redimir). De todo modo, creio, devido ao panorama atual e às circunstâncias em que estamos todos inseridos, que poucos (bem poucos) serão aqueles que me poderão atirar a primeira pedra...
  ...............................................................................................................................................................