15 de agosto de 2022

Coisicas (culinarescas) Artesanais - Três receitas com espinafre! :P


Amooo... ♥


Quando criança, eu era muito chata pra comer e torcia o nariz pra muita comida boa - mesmo antes de  provar! Nota: "mesmo antes de provar" é pura força de expressão porque, de fato, eu não provava nada que já tivesse condenado - e pra condenar qualquer alimento, bastava que eu não fosse com a cara dele ou achasse muito esquisito seu nome. Pronto, não tinha conversa.

No quesito "comida feia" marcavam presença a berinjela, o inhame, o quiabo... Já no quesito "nome estranho", estrelavam o rabanete, a beterraba e, novamente, o quiabo... Sim, alguns alimentos figuravam em mais de uma categoria de proibições. O quiabo, além dessas duas mencionadas, ainda elencava a de "textura pavorosa", junto, aliás, do inhame, outro que aparecia em muitas categorias... 

Eram muitas as limitações, e um alimento deveria cumprir uma série de requisitos para ter a graça da minha simpatia gustativa. A 'coisa' não poderia ser "paposa" ou gosmenta, mas a crocância de uma cebola tampouco era tolerada; não poderia ter cor "berrante" ou "cheguei", mas a coloração pálida da batata doce era igualmente rechaçada; não poderia ser amarga e, em se tratando de comida, em hipótese alguma deveria ser doce! Com essa infinidade de quesitos proibitivos, excluía-se quase tudo de nutritivo (para desalento de mamis)...

Mas nenhum alimento era tão temido quanto a abominável, indigesta e nauseante minhoca - uma larvona grande e gorducha com riscos anelados, qual um congolo pálido e inchado que, um pouquinho mais velha, apurei os ouvidos e compreendi se tratar do gnocchi !!! (ou nhoque mesmo), rs...

 Gnocchi feito em casa. Desfeito o quiprocó, hoje eu adoro o prato que, na infância, achava que era feito de minhocas! ;)

Pra não dizer que não salvava nada, eu até gostava de uma couvezinha à mineira e gostava muito, mas muito mesmo, de abobrinha (também, pudera! Com um nome fofo desses! rs).

E o espinafre estava lá nas categorias de amargosidade e feiura, mas com conversa e jeitinho, mamãe me convencia a comer um pouquinho, afinal, não era tão terrível como parecia... (e não chegava a ser insuportável, principalmente se comparado à asquerosa "minhoca"!)...

Ainda bem que essa fase enjoada com comida ficou lá pra trás! Hoje eu como de tudo, adoro experimentar novos pratos e inventar combinações de ingredientes, sabores e texturas, e posso dizer que muitos dos alimentos que me faziam torcer o nariz na infância, hoje eu como com gosto! O espinafre é um belo exemplo disso! Amo! ♥

Mas nem toda percepção da infância foi superada e preciso confessar que preservo ainda algumas implicâncias, é bem verdade... Essa coisa de doce na comida, por exemplo, ainda me embrulha o estômago... De batata doce e abóbora, portanto, ainda preciso manter uma distância segura... Vivo bem melhor sem elas!

Ok. Também não precisamos gostar de tudo nessa vida, não é mesmo?

Mas, ora! Deixemos de prosa e vamos aos pratos! :)



Antes, porém...

Antes de falar dos pratos em si, tem o preparo do espinafre, né? Se lavar, cozinhar no vapor, picar e refogar espinafre não é novidade pra você, então rola a barra até a primeira receitinha, mais abaixo. ;) 


Higienizar:
Deixe o espinafre de molho numa bacia com água misturada a uma tampinha de água sanitária por 15 minutos. Escorra a água e lave o espinafre sob água corrente. 


Cozinhar no vapor:
Após lavar, cozinhe o espinafre no vapor por 5 a 7 minutos, 10 minutos no máximo (a depender da quantidade). Se você não tem panela de vapor, disponha o espinafre numa panela bem grande com uma colher (sopa) de água no fundo. As próprias gotinhas que ficam no espinafre após a higienização, também vão ajudar a formar o vapor pela panela (que precisa ser grande, pra deixar o ar circular dentro). Tampe a panela e deixe em fogo entre brando e médio até que as folhas percam parte do volume. Se for muita quantidade, após a primeira "murchada", mexa um pouco o espinafre na panela para que cozinhe tudo por igual e deixe mais um pouco. O espinafre vai "murchar" (perder volume) e ficar com um verde intenso, vívido e brilhante e suas folhas e talos permanecerão crocantes. Apague o fogo e deixe esfriar.



Picar:
Após cozido no vapor e já morno ou frio, esprema o espinafre com as mãos para retirar o excesso de líquido. Sairá um caldo verde escuro. Não jogue fora este caldo, aproveite-o no feijão, no cozimento do arroz, na sopa ou na massa de pães caseiros ;)

Pique grosseiramente o espinafre, aproveitando os talos! Descarte apenas aqueles pedacinhos de talo que não estejam "croc" e que resistam ao corte da faca, aí sim, esses pedaços vão pro seu baldinho de orgânicos ou composteira ou poderão servir de ingrediente para fazer uma "vitamina-adubo" para plantas ;) Para facilitar o processo de identificar talos bons e pedaços a descartar, sugiro separar folhas e talos e picá-los em separado, depois pode juntar tudo outra vez. ;)



Refogar:
Numa frigideira com azeite, frite alho e cebola picados e junte sal a gosto. Espere a cebola "esmaecer" um pouco (ficar levemente transparente) pra perder aquele "croc" ardido. Só então junte o espinafre. Como ele já foi cozido no vapor, basta saltear por 3 minutos. A quantidade de cada coisa vai depender do gosto de cada um. Geralmente, para o volume de 1 prato raso de espinafre já cozido e picado, eu uso 1/2 cebola grande e 2 dentes de alho.


Obs. importante: você não precisa necessariamente passar o espinafre pela etapa do vapor. Depois de higienizado, você pode picá-lo grosseiramente e refogá-lo imediatamente. A dica de aproveitamento dos talos serve igualmente neste caso. Refogue o tempo suficiente para ele murchar um pouco e ficar com coloração verde vívida e intensa. Fica uma delícia! Um sabor intenso e maravilhoso! Poréééémmmm... observei que a mim o espinafre apenas salteado, sem cozimento prévio, costuma causar muita azia (uma pena!), por isso eu sempre passo pelo vapor, mas não é uma etapa obrigatória ;)

Bem, esse é o preparo básico do espinafre e é a partir desse refogadinho (com ou sem cozimento prévio, a depender do estômago de cada um, rs) que vamos fazer as receitas a seguir ;)


Refogadinho de espinafre e ovos

"Boniteza não põe mesa"... Bonito não é, mas é gostoooso! :P

Essa eu aprendi com mamis, que costumava usar chicória ou bertalha em vez de espinafre - e ficava mega delicioso, embora naquela época eu comesse fazendo esforço, rsrs...

Esse refogadinho com ovos é a mais simples das receitas de hoje! Sabe a base refogadinha que acabamos de ver ali acima? Pois então, com o fogo ainda aceso, quebre alguns ovos por cima, salpique sal, pimenta ou outros temperos do seu agrado, tampe a panela e deixe cozinhar em fogo médio até que os ovos estejam no seu ponto favorito. É rapidinho, mas isso também vai depender do tamanho da sua panela, então, dá uma conferida com um garfo pra sentir o ponto das gemas antes de apagar o fogo. ;) 


Sirva aos pedaços, com arroz e feijão, por cima do angu ou acompanhando aquela carne suculenta de panela. Bonito, bonito, não é, mas, gente, fica uma delícia!

Básico, fácil, saboroso e nutritivo! ♥



Quiche de espinafre, nozes e queijo de cabra ♥

Taí uma combinação de ingredientes que é a própria perfeição! Espinafre refogado, nozes e queijo de cabra - parece que nasceram uns para os outros e, juntos, para nosso deleite! ♥

Essa mesma mistura eu também uso para rechear massas caseiras (sorrentinos e ravioles - amo!), que sirvo com molho de tomate caseiro e simples. É de comer rezando! ♥♥♥

Para a quiche, faça a massa e o creme conforme receita que já publiquei anteriormente, numa ocasião que fiz quiche de alho poró (veja aqui). O que muda é o recheio da montagem: sobre a massa, coloque uma primeira camada de queijo de cabra ralado, por cima, coloque uma camada de espinafre refogadinho. Espalhe mais pedacinhos de queijo picado por cima e nozes quebradas (como na foto abaixo) e, por fim, despeje o creme por cima de tudo, com cuidado. Leve para assar em temperatura alta por mais ou menos 30 minutos ou até que o creme esteja consistente e levemente dourado. 


Etapa da montagem com nozes e queijo de cabra e, ao lado, a quiche pronta.
Um prato de presença - e de lamber os beiços! ♥


Arroz com espinafre, nozes, gergelim e atum

Essa é uma invenção meio maluca minha, de uma ocasião em que eu estava muito "pistola"... Aqui em casa não temos o costume de jantar, mas quando eu bolei esse prato maluco, muitos anos atrás, eu tinha tido um "dia de fúria" (leia-se TPM com muita ansiedade e inquietude) e eu estava chegando em casa varada de fome, depois de um dia cheio no trabalho e de uma sessão de pilates que eu me obriguei a ir. Naquele dia eu precisaaaava COMER, me fartar de comer!!! Era fome física e fome emocional, tudo junto! (E quem nunca??)

Reconhecendo que estava numa TPM braba daquelas, garimpei tudo o que tinha em casa e que, dizem, teria propriedades "anti-TPM". Ômega 3, magnésio, vitamina E, ferro, fibras... Traduzindo: atum, nozes, gergelim, espinafre, cebola, azeite, rs... Refoguei tudo, juntei um arroz integral cozido de véspera que estava na geladeira e montei meu prato. Gente! Comi com um prazer i-ne-nar-ráááá-vel! E repeti! 

Sem mistério: ao refogado de espinafre, junte 1 lata de atum,
arroz cozido, nozes, gergelim, finalize com um
filete de azeite, misture tudo e seja feliz!

Tudo bem, vamos dar o desconto que, na situação limítrofe em que eu estava com aquela TPM9 (TPM elevada à nona potência), minhas emoções e reações a qualquer coisa estavam exageradas (para o bem e para o mal) e isso pode ter aumentado também o meu deleite diante desse prato, mas... por via das dúvidas, eu tornei a fazê-lo em casa e passei a prepará-lo de vez em quando e, com ou sem TPM, continuo achando esse prato uma delícia! Até marido me acompanha com gosto (ele, que não tem TPM, rs)... O sabor do atum, o "croc" aconchegante das nozes, os sabores do espinafre e do gergelim, o perfume do azeite... Tudo junto num prato leve, saboroso e...  "curativo", eu diria ;)

Naquela noite, matei as fomes (a física e a emocional) que me aplacavam e serenei a inquietude de um dia inteiro num prato que me caiu beníssimo, tive um final de dia sussa e dormi com os anjos, saciada e em paz! rsrs...

Meu arroz maluco "anti-TPM"...
Placebo ou não, o prato é leve, saboroso e "apaziguador" ♥

* * *


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30 de julho de 2022

Pedro Soldatelli e seus Trecos com Arte (muita arte!)

Em outubro do ano passado, eu passei uma pequena temporada na serra gaúcha para resolver algumas demandas pessoais. Não era, absolutamente, uma viagem a passeio. Mas... num pulo rápido ao centro da cidade, onde fui para tratar algumas pendências burocráticas, me deparei com um trabalho artesanal que me fez esquecer o que eu tinha ido fazer ali...

No meio do caminho entre a rodoviária e o banco, esqueci a pressa, a hora, a fila, a burocra e me permiti parar pra admirar aquele trabalho tão lindo, que me tocou fundo no coração, porque trazia uma linguagem muito familiar e tão querida para mim, o rústico e o delicado unidos em simbiose perfeita, muitas cores, madeira, arame e cerâmica, tudo delicadamente combinado! 

Os encantos que me fizeram parar a correria do dia ♥


De certo modo, aquelas peças me lembravam muito o artesanato de Minas Gerais (que eu amo! ♥), mas elas traziam consigo uma novidade, um algo a mais: a força inventiva e a criatividade livre e sem limites daquele artista. Sua mão, seu coração e, por assim dizer, sua assinatura estavam presentes em tudo ali, em cada detalhe de cada peça!


*Foto gentilmente cedida ♥
créditos ao final da postagem*

*Foto gentilmente cedida ♥
créditos ao final da postagem*


*Foto gentilmente cedida ♥
créditos ao final da postagem*


*Foto gentilmente cedida ♥
créditos ao final da postagem*


Pedro Soldatelli é o artista, um fazedor de trecos luminosamente criativo! E os "trecos" que Pedro cria irradiam liberdade, porque ele parte de uma estética mais ou menos conhecida de todos nós para, entretanto, apresentar peças que escapam do óbvio. Um pequeno casario emoldurado por um velho cabide de roupas, um gato estilizado com a barriga vazada de onde pende um coração, casinhas de passarinho super estilosas, barquinhos veleiros que te fazem sentir a brisa do mar, Franciscos de Assis envoltos por passarinhos a voar! ♥ Os "trecos" do Pedro, seguramente são bem mais que trecos, são arte mesmo, porque ultrapassam o já visto, o esperado e nos transportam para um lugar de surpresa e beleza!


*Foto gentilmente cedida ♥
créditos ao final da postagem*

*Foto gentilmente cedida ♥
créditos ao final da postagem*

Naquele dia, impactada e encantada diante de tudo o que Pedro e Flávia, sua esposa, expunham naquele cantinho de galeria, eu entendi que estava diante de algo muito especial! Por isso minha marcha foi brecada, minha urgência foi suspensa, e eu parei ali pra poder admirar aquele trabalho!


Impossível não se encantar! ♥


Na ocasião, eu fiquei tão feliz com aquele "achado", que, já embalados em boníssima e simpática prosa (eu, marido, Pedro e Flávia), eu lembrei que poderia "remover o pó" da "blogueira de artesanato" que adormece em mim (rs) e perguntei se poderia escrever um pouco sobre eles aqui no Coisicas, e eles consentiram muito gentilmente! Fiz algumas fotos que guardo com carinho e, hoje (finalmente!), venho mostrar um pouquinho desse trabalho tão lindo e cativante, tão rico e singular, tão cheio de referências e histórias e, ao mesmo tempo, tão carregado de belíssimas surpresas! ♥


Selfie pra lembrar do encontro e da prosa - outubro/2021

O cantinho com as peças expostas - que me fizeram parar tudo! ♥


Pedro, Flávia, muitíssimo grata pela prosa tão legal que tivemos, pela simpatia que irradia de vocês e pela oportunidade de trazer um pouquinho desse trabalho tão lindo (e também esses sorrisos) pra compartilhar aqui no Coisicas! Adoramos conhecê-los! ♥ Muita luz, inspiração e criatividade sempre-sempre no caminho de vocês! ♥


Pedro e Flávia - dois queridos! ♥

Para os leitores que gostaram de conhecer um pouquinho desse trabalho tão lindo, não deixem de acompanhar as novidades e saber por onde eles andam expondo seus Trecos com Arte (sim, muita arte!). Vou deixar abaixo os links para suas redes sociais. Sigam lá! ;)



* As fotos gentilmente cedidas para esta publicação são de autoria do Pedro, da Flávia e de Rafael Sartor (@rafaelsartoroficial).

~ ♥ ~


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28 de julho de 2022

Coisicas (culinarescas) Artesanais - Bolo amanteigado de amêndoas ♥


Faça em forma de bolo comum ou de cupcakes (ao fundo, à direita)

Tem algumas receitas nessa vida que são tão maravilhosas que a gente precisa fazer uma oração pra Nossa Senhora da Boa Gula olhar por nós! Esse bolo é um caso desses. Perfumado, fofo, leve, amanteigado... Huuummm♥♥♥... E, ainda por cima, facílimo de fazer! É só misturar tudo com uma espátula e... pá-pum! 

Uma verdadeira tentação, mas daquelas que fazem bem pra alma a gente nem tentar resistir! O céu pode ser aqui e agora, com um bolo desses à mesa! ♥

Por via das dúvidas, bora aprender a oração? Para ser recitada sempre que estivermos diante de um bolo como este...


Minha Nossa Senhora da Boa Gula,
Livrai-nos dos pecados da vaidade, da soberba e da avareza.
Da gula, por enquanto, ainda não! ;P
Amém /\



Bolo amanteigado de amêndoas




Pré-peparos: 

1- Derreta 100g de margarina ou manteiga (pode ser com sal). Deixe esfriar.

2- Triture amêndoas num mixer, em quantidade suficiente para obter 3/4 de xícara de "farinha". Não bata por muito tempo, para evitar que as amêndoas soltem gordura e a farinha aglutine. Se você mora em cidade muito quente, vale deixar a lâmina do mixer 10 minutos na geladeira antes de usar. Também não precisa triturar muito fino - grânulos maiores são bem-vindos! ;)

3- Unte uma forma com manteiga e polvilhe com farinha (disponha um pouco das amêndoas moídas no fundo da forma - opcional). Eu usei uma forma redonda de 17cm de diâmetro. Também é possível fazer bolinhos individuais, para isso, forre uma forma de cupcakes com papel manteiga ou com forminhas de cupcake.

4- Preaqueça o forno em temperatura média. 


A massa:

Numa bacia, junte:

- 1 xícara de farinha

- 3/4 xícara de amêndoas moídas

- 2 colheres de chá de fermento químico em pó

Misture bem e abra um buraco no meio e, então, junte:

- 3 ovos

- 170g de iogurte natural (1 xícara, 1 dedo abaixo da borda)

- 3/4 xícara de açúcar

- 1 colher (chá) de essência de amêndoas (se não tiver de amêndoa, pode ser de baunilha)

- 100g de margarina derretida 

Comece mexendo pelo centro, desmanchando os ovos e unindo os líquidos com o açúcar, depois vá agregando a farinha que está em volta aos poucos, até uniformizar toda a massa.



Despeje a massa na forma untada e polvihada. Para cupcakes forre com papel manteiga ou com forminhas de cupcakes e preencha com ajuda de uma colher de sorvete.

Forma untada e polvilhada, use  também um pouco de amêndoas moídas.
Despeje a massa e leve ao forno.

Leve ao forno (entre médio e alto) por 35 ou 40 minutos (para forma de bolo), ou 15 a 17 minutos (para forma de cupcakes).







~♥~

Veja, aqui, outra receita que publiquei e que, de tão gostosa, também foi necessário recorrer à Nossa Senhora da Boa Gula! ;)



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Rolinhos de amêndoas
Torta Piemontese - de avelãs ♥



4 de fevereiro de 2022

Cantilena pra São Benedito


Entre os anos de 2007 e 2014, marido e eu acompanhamos de perto o calendário de celebrações do Reinado* em Minas Gerais, acolhidos (e incentivados a comparecer sempre e cada vez mais) principalmente pela Irmandade de Justinópolis, que nos "adotou" (como adota a todos que lá chegam, aliás) e por cujos irmãos guardamos carinho, respeito e gratidão imensos e com quem aprendemos preciosas e marcantes lições. 

Num contexto desses, você é apresentado a histórias, a históricos, a modos de viver e a crenças que não necessariamente são os teus, mas que inegavelmente te envolvem naquela aura, da identidade daquele povo, das suas realidades, das suas realizações, e que te fazem dobrar os joelhos e chorar feito criança diante da graça concedida: poder contactar o que lhes é Sagrado. ♥ 

Foi assim, através daqueles irmãos devotos, que me senti tocada e muito emocionada com o lugar que dão a São Benedito em suas vidas. Com o coração inundado pelo amor que vi e senti transbordar naquelas ocasiões junto aos Irmãos do Rosário foi que, pensando num dos mestres daquela Irmandade, compus essa "prece-canção". ♥ 

Isso foi no ano de 2013, quando nossas visitas àquela Irmandade já rareavam e a saudade apertava... E a canção ficou guardada e restrita ao meu caderninho e aparelhinho gravador de mp3, sem previsão (e sem pretensão) de sair de lá... 

Apenas recentemente (tipo... no mês passado!) meu marido (sempre dedilhando coisas aleatórias ao violão) encontrou acidentalmente uma base de violão que nos tocou de imediato! Achei que ele estava rascunhando alguma versão da Ave Maria, aquela base de Bach... Mas não... Apesar da semelhança que percebo entre essa base e aquela, Dagô me disse, ainda surpreso ele próprio com o achado: "É a música do São Benedito!"... 

As coisas têm seu próprio tempo... E têm seus meios de, atravessando tempo e espaço, fazerem-se chegar até nós... E aquele violão recém-"encontrado", singelo e minimalista (e que, no entanto, nos lembrou uma das mais belas músicas já produzidas na humanidade), veio se casar com essa "prece-canção" que aguardava adormecida seu momento de visitar outros corações e que, por ser uma oração, precisava justamente de algo assim: tão simples e sem excessos, pra poder preservar o sentimento ali contido de intimidade, de Coisa Sagrada que a gente um dia recebeu da Vida e que entrega de volta, a partir do coração... ♥ 

* Se você não conhece as manifestações de Reinado/Congado no Brasil e quer saber um pouco sobre a história de devoção das Irmandades dos Homens Pretos no Brasil, neste post aqui, eu escrevi um pouco a respeito disso.

Abaixo deixo o vídeo que gravamos com essa "prece-canção" e, mais abaixo, a letra...



Cantilena pra São Benedito 
(Simone dos Santos) 

Glorioso Benedito, hoje eu quero te louvar 
por me dar a tua bênção, por sempre nos amparar; 
Caridoso Benedito, do regaço todo em flor, 
não nos deixa passar fome nem de pão nem de amor... 
Ó, bondoso Benedito, de doçura e tanta luz! 
Foi por isso que Maria pôs nos teus braços Jesus. 
Meu santin', São Benedito, tu que forras o meu chão 
pros meus pés pisarem as pedras feito fossem de algodão... 
E por isso, Benedito, por tão bem me proteger, 
por me dar amparo e bênção, hoje eu vim só agradecer, 
por me dar amparo e bênção, hoje eu vim só agradecer ♥ 


31 de janeiro de 2022

Vaso adaptado para orquídeas


Eu estava me perguntando: qual o sentido de fazer um post desse num blog que nasceu pra falar de artesanato? (mas que também já derivou, é bem verdade, pra contar histórias, mostrar músicas e até compartilhar receitas!!)... 

Hummm... Pensando bem, visto esse histórico, acho que tudo bem falar de plantinhas, né? ;)


Sempre amei o verde... montanha, natureza, flor, passarinho... Cresci numa casa rodeada de plantas e vendo minha mãe regá-las todas, sempre com grande prazer estampado no rosto! Naquela casa sem quintal, mas ladeada por um extenso corredor, um buraco de ralo em desuso virava um mini canteiro pra um frondoso hibisco florir; flores-de-maio de todas as cores pendiam de parapeitos e paredes, embelezando nossos outonos e comecinhos da primavera; de quando em quando, um mini abacaxi se manifestava, majestoso, por entre a folhagem rústica e arisca num vasinho sobre a mureta da varanda... Era um desbunde!

Quando "adultesci" e passei a ter minhas próprias plantinhas no meu apê, eu tive um choque de realidade. Ter plantas belas e bem cuidadas em casa não era tão simples como parecia e, muito diferente do sucesso de mamis com a "verdaiada" naquela casa onde passei a infância, eu não tinha a menor vocação para cuidar delas e me descobri uma "assassina" de plantinhas! Foram muitas tentativas frustradas, em épocas variadas da fase adulta, e muitas plantinhas "assassinadas"... 

Em 2019 (o ano em que a preguiça quase me doeu), disposta a mudar isso de uma vez por todas, eu futuquei-futuquei na internet e descobri o canal "Minhas Plantas", da Carol Costa, uma fofa. Apaixonei. Como sou mais de ter um livro por ler do que mil vídeos por assistir, comprei o livro da Carol e isso mudou a minha relação com a jardinagem amadora. E mudou também o destino das plantinhas aqui de casa (que passaram a sobreviver aos meus cuidados!) e eu pude, finalmente, fazer as pazes com a pá, com a terra, com as minhocas... (Bem... com as minhocas, nem tanto).

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
O livro que mudou a vida das minhas plantinhas! ;)

Entendi que eu cometia um erro gravíssimo na base do processo, negligenciando um princípio muito importante: devemos tentar simular o ambiente natural onde crescem as plantinhas que queremos ter conosco, para poder oferecê-las a melhor adaptação possível! Pra começo de conversa: na natureza não existem vasos! É tão óbvio, né? Mas a gente não pensa muito nisso ou não dá (ainda) a importância devida... Plantas são seres vivos (♥) e, assim sendo, têm suas preferências de clima, de solo, de umidade, etc... que devem ser observadas e respeitadas. Fechar os olhos pra isso é como manter um cachorro dentro de um aquário e alimentá-lo com alpiste - e querer que ele fique saudável e pimpão...

Desde que passamos a reproduzir e a "domesticar" plantinhas ao nosso gosto, devemos também estar dispostos a compensar o fato de elas não estarem mais no seu ambiente natural (e sim dentro de um vaso na nossa varanda), e essa compensação só é possível conhecendo as espécies e suas "preferências", pra podermos oferecer as condições que elas precisam para se desenvolver tão bem (ou quase) quanto na Natureza. E isso passa por compreender e aceitar que nem todas gostarão da nossa varanda...

Com essa lição aprendida, teve uma coisa que a Carol falou, num dos seus vídeos sobre orquídeas, que fez estalar um "plim" na minha cabeça! Carol nos lembrou que, na natureza, as orquídeas Phalaenopsis (essa moça das fotos - a mais comum e mais indicada para iniciantes) ficam praticamente de ponta-cabeça, agarradas às árvores - e que isso, aliás, é prova de quão sábia é a Natureza, porque, nessa posição, quando chove, a água não se acumula ali naquele "nozinho" de onde nascem as folhas novas (evitando encharcamento/apodrecimento e/ou surgimento de doenças na planta).

Cuidar para não deixar empoçar água ali é uma das primeiras coisas que nós, iniciantes, aprendemos no trato com as Phalaenopsis. E por que a gente precisa aprender isso?? Ora... porque as orquídeas que encontramos para venda são colocadas "de pé" nos vasos. Essa posição, invertida do que seria o natural para a plantinha, favorece que a água fique acumulada ali e causa ainda outro efeito indesejável: sua haste floral nasce pro lado! E é por isso que elas também são vendidas com guias fincadas no substrato: para prender a haste floral para cima. Ou seja: a bichinha é colocada numa posição invertida da sua posição natural e ainda lhe torcemos a haste para cima. É como se quiséssemos "plantar bananeira" sem deixar que nossas madeixas pendam para baixo com a posição inusitada... Difícil, né?

Pensando nisso, eu decidi dar uma aliviada pra minha "Fafá" (apelido carinhoso para Phalaenopsis - e uma saída foneticamente facilitadora pras nossas vidas) e arrumar um vaso mais adequado pra ela, que andava triiiiste e macambúzia, e que não floria havia tanto tempo, mas tanto tempo que eu nem me lembrava mais!


Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Como na Natureza: com o vaso adaptado, a planta fica em posição mais próxima 
ao que é natural à espécie, evitando que se acumule água no miolinho das folhas, 
e sua haste floral cresce naturalmente para cima, sem necessidade de guia.

Para adaptar o vaso, fiz um corte usando faquinha de serra e estilete. Troquei o substrato da orquídea (como de costume) e a encaixei no corte do vaso com a maior parte das raízes pra dentro e as folhas pra fora do buraco, preenchendo o restante com mais substrato para que ficasse bem firme (fotos abaixo).

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Adaptação e improviso: com uma faquinha de serra e estilete, fiz um corte no vaso para acomodar minha orquídea do modo mais parecido com a posição que ela fica da natureza. Simplicidade e puro amor ♥ ♥ ♥


Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Deixei esfagno de molho em água com bokashi* e depois espremi bastante pra retirar bem o excesso de líquido. *bokashi é uma espécie de "combo" de nutrientes, um "polivitamínico" para plantas. Tem em pó ou líquido e é bem prático de usar.

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Daí vem o "abraço". A gente acomoda um tufo de esfagno "vitaminado" na base das raízes e envolve esse tufo
com algumas raízes e depois envolve essas raízes com mais esfagno. Deixe algumas raízes soltas.

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Forre o fundo do vaso com manta e um pouco de substrato para orquídeas e encaixe sua orquídea passando o "pescoço" pela abertura feita no vaso, deixando o "abraço" de esfagno e raízes para dentro e as folhas para fora do vaso. Algumas raízes vão querer ficar para fora, tomando ar: deixe que fiquem ;) Complete o vaso com mais substrato e aperte com cuidado.
Obs.: com o esfagno, proteja a planta do contato direto com o corte do vaso, para evitar machucá-la! ;)

Pra que não ficasse muito frouxo o "arranjo" (porque orquídeas precisam se agarrar e sentir que estão bem firmes para conseguirem se desenvolver melhor), eu envolvi a boca do vaso com um arame, dei voltas e apertei bem, juntando mais as bordas do vaso e, assim, fechando o corte na parte de cima, formando tipo um triângulo. Cuide para que o corte feito no vaso não tenha contato direto com a planta usando mais esfagno ali, evitando assim eventuais machucados ;) 

Com o próprio arame enroscado, eu fiz o ganchinho para prender o vaso na parede. Colei um toquinho de madeira no verso do vaso, para ficar melhor acomodado junto à parede e... pronto! Uma solução simples, caseira e no improviso, pra deixar Fafá mais pimpona e feliz!

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Depois de completar o vaso com  mais substrato para orquídeas, deixando tudo bem apertadinho, ajustei a borda do vaso enroscando arame em volta. Com ajuda de um alicate de ponta redonda, fiz um arremate do próprio arame para formar um ganchinho de pendurar. Por fim, colei um toquinho de madeira para o vaso ficar melhor acomodado na parede.

Em poucas semanas, minha orquídea sofrida e macambúzia mudou de aspecto. De triste que estava, ficou vivaz e muito vistosa! Lançou novas raízes, uma, duas, três! Lançou novas folhinhas, as raízes cresceram que foi uma beleza, até encontrarem a parede - no caso, meu painel de madeira - e se agarraram ali muito bem! Não havia dúvida: Fafá estava se sentindo em casa! rs... (E eu estava radiante de feliz com isso!)

Até que um dia Fafá lançou mais um biquinho, que parecia mais uma raiz, só que meio diferente... Fiquei na dúvida se seria uma haste floral e precisei de alguns dias a mais para me certificar que sim! Era uma haste floral!!! ♥ ♥ ♥ =)

Orquídeas são assim... Depois de caírem as flores, a haste que permanece viva produzirá novas floradas numa próxima temporada e depois de mais essa florada ou mais outra, a haste costuma morrer. Nessa hora tiramos a haste. É natural. Sendo bem cuidada, uma nova haste rebrotará e você terá novas florações. Era essa parte do processo que eu nunca cheguei a ver, de uma nova haste rebrotar, porque minhas orquídeas morriam antes disso! Então eu fiquei muito, muuuuito feliz e radiante quando vi que tinha nova haste e mais ainda quando vi os primeiros botõezinhos e quando, finamente, eles se abriram! ♥

As fotos de Fafá florida são dessa época, de quando tive a ideia de adaptar um vaso, no ano passado. Mas as fotos da troca do substrato são de agora, porque na época que inventei de cortar o vaso, eu não imaginava que ia querer compartilhar essa experiência aqui... Depois que ela floriu, suas flores caíram e eu entrei em obra aqui em casa. No vuco-vuco, deixei de cuidar das minhas plantinhas e Fafá voltou a sofrer, precisei desgarrá-la do painel onde ela tinha de segurado tão feliz e ela magoou, tadinha - acho que por isso sua haste secou depois da floração. Daí, agora, eu refiz todo o processo de troca de substrato pra ela ficar pimpona outra vez e aproveitei pra fazer essas fotos pra poder compartilhar aqui.

Se você tem Phalaenopsis em casa, libera ela de ficar "plantando bananeira com os cabelos presos" pro resto da vida, rs... Tira ela desses vasos convencionais (que são necessários, senão elas se machucariam durante todo o processo de transporte e comercialização) e prepara um vasinho desses pra ela! É simples, fácil, e você estará entregando mais "qualidade de vida" pra sua Fafá, que vai ficar feliz da vida e pimpona, e agradecer com mais floradas!

Coisicas Artesanais - Vaso adaptado para Orquídeas - Simone dos Santos
Ói ela aí! Fafá, com substrato recém-trocado, livre, leve e liberada de
"plantar bananeira", pronta pra desenvolver uma nova haste floral
e brindar a vida (e alegrar nossos olhos) com novas flores! ♥

* * *


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